Igreja Nova mostra sua cultura para projeto de salvaguarda imaterial

A rica cultura popular igrejanovense está sendo registrada no Projeto de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial de Alagoas, uma parceria entre governos federal e estadual apoiada pela Prefeitura de Igreja Nova.

Projeto Salvaguarda
Projeto Salvaguarda

Por meio da Secretaria Municipal de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer, pesquisadoras da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) foram apresentadas às mais diversas tradições de nosso povo, especialmente as manifestações artísticas passadas de geração à geração, enraizadas na cidade ou mantidas vivas nas comunidades rurais.

A missão de fazer a ponte entre a academia e parte desse universo coube ao Coordenador Cultural do município, Luiz Fernando Vital. Ele informa que os primeiros registros aconteceram na cidade, onde a produção das ‘caretas’ (máscaras de carnaval) foi tema de entrevista com ‘seu’ Hugo, filho do Mané Serralheiro, precursor da brincadeira que faz da folia de Momo em Igreja Nova algo singular em Alagoas.

Comércio
As pesquisadoras conheceram a feira livre da cidade, experimentando comidas típicas e conversando com pessoas sobre esse aspecto da economia. Dona Maria Borges, a comerciante de tecidos que mantém sua loja com interior preservado, conforme o estilo de época de meados do século passado, também foi visitada.

Sobre o cultivo de arroz, a apresentação coube a ‘seu’ Beto, enquanto que a pesca ficou a cargo do ‘seu’ Cícero, pessoas conhecidas justamente pela lida nos citados meios. Conforme orientação passada ao representante da Gestão Governando Para Todos, as pessoas entrevistadas não deveriam ser dirigentes de instituições ou membros do governo, mas gente que conhece o tema abordado porque vive ele, é parte do seu cotidiano.

Nessa linha, Luiz Fernando apresentou o Professor José Filinto para contar a história da Igreja Matriz de São João Batista e aspectos da religiosidade igreja-novense. Sobre música, especialmente as bandas fanfarras e filarmônicas, a fonte foi o maestro Léo Ignácio.

Os relatos de jovens e idosos chamaram a atenção das pesquisadoras, impressionadas com a preservação dos bens culturais e o amor pelo patrimônio imaterial de Igreja Nova.

A boa impressão levada da cidade também ocorreu na zona rural. A captura artesanal de pescados foi registrada in loco, no Boacica e no Taquara. Na comunidade Palmeira dos Negros, a produção artesanal de utensílios feitos com palha de ouricouri – exemplos mostrados por Dona Rosete – foi mostrada ao lado do trabalho mais elaborados, feitos por Marta, uma jovem remanescente quilombola que produz bijuterias e peças de decoração, desde 2014, após participar de oficina com a arquiteta e artista plástica Mirna Porto.

As “Baianas da Palmeira dos Negros” também foram pesquisadas, assim como a história da comunidade centenária nos relatos de Dona Amerinda, uma das mais antigas moradoras do local. A arte de curar pessoas com recursos da medicina natural e da sabedoria popular coube à benzedeira Dona Vilma.
A religiosidade do homem do campo também foi observada no povoado Ipiranga, com apoio de Vanderson Vieira, que falou sobre as capelas de São José e Bom Jesus. Sobre as religiões de matriz africana, destaque para a casa de umbanda de Valdemir de Ogum, localizada no Sapé.

Guerreiro Treme Terra
Na mesma comunidade remanescente quilombola, as pesquisadoras Fernanda e Andreza e o coordenador cultural Luiz Fernando foram recepcionados pelo Guerreiro Treme Terra do Mestre Daniel e da Contra-Mestra Luzinete.

A produção de farinha entrou na pauta da pesquisa, costume e meio de sobrevivência relatado pela dupla de anfitriões e por Dona Aparecida. Dona Nenzinha também passou informações relevantes, enquanto mostrava o preparo de alimentos em fogão à lenha, as panelas de barros que usa, equipamentos artesanais para pesca, peças de artesanato que faz para utilizar em casa, como um abano para o fogo.

No povoado Tapera, a banda de pífanos de ‘seu’ Enoque fechou a etapa de captura de dados do Projeto de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial em Igreja Nova. “Graças a Deus que nós temos um elo de ligação muito íntimo com nossos mestres de folguedos e as pessoas que sabem da história, das tradições de Igreja Nova”, afirmou Luiz Fernando Vital sobre o bom aproveitamento do trabalho sobre a rica diversidade cultural do povo igreja-novense.