Projetos de AL inovam e são apontados como referência na educação do país

O quadro negro e o giz há tempos deixaram de ser os únicos aliados dos professores na hora de transmitir conhecimento. Músicas, poesias, filmes, jogos e mais recentemente aplicativos e videoaulas foram inseridas nesse cotidiano e ampliaram o leque de opção dos estudantes para aperfeiçoar os estudos. Correndo em paralelo a isso, as modalidades de ensino à distância ganharam notoriedade e são consideradas uma das opções para chegar a lugares remotos e corrigir déficits educacionais. Seguindo esse novo nicho educacional que une tecnologia e educação, dois projetos de Alagoas se destacam pelo trabalho e estão entre os principais do país.

Apesar da educação básica de Alagoas não ser apontado como modelo a ser seguido, amargando índices negativos consecutivos, especialistas se esforçam para desenvolver plataformas e projetos que pretendem melhorar a educação local e nacional.

O pernambucano Ivys Urquisa Galvão há mais de 20 anos desmistifica a física e mostra aos seus alunos que os cálculos e fórmulas podem ser entendidos de forma simples e clara. Apesar do reconhecimento dentro das salas de aulas de colégios e cursinhos de Maceió, foi o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2009 que o motivou a criar um blog, o Fisica para o Enem, e mais tarde caminhar pelas veredas do mundo das videoaulas e lançar o Física Total. O sucesso foi estrondoso e hoje seu canal no Youtube beira 70 mil inscritos que assistem com frequência suas dicas sobre conceitos de física.

Os números de visualizações de alguns vídeos são tão relevantes que superam números de alcançados por clipes de bandas famosas. Atento a essa nova demanda dentro da internet, o Youtube em parceria com o instituto Lemman e o Google criou em novembro do ano passado uma plataforma de excelência que agrega vídeos de educação feitos por professores brasileiros. O canal alagoano Física Total é um dos 26 selecionados pela empresa para integrar o seleto time de professores no Youtube EDU.

(Acima, Ivys durante lançamento da plataforma Youtube EDU)

Nas redes sociais, o professor também alcançou sucesso. Sua página no Facebook possui mais de 122 mil curtidores e segundo Ivys, seu projeto é criar uma plataforma que comporte o canal de vídeos, o blog e outras ferramentas que ajudem o aluno nos estudos.

“Hoje lido com certa naturalidade sobre esse sucesso, mas se for parar para pensar que estou entre os maiores do mundo dentro desse mercado é absurdo. O Brasil está despertando, o Youtube também. Acho que seremos mais presentes nos próximos anos nessa modalidade de ensino. Não acredito que iremos substituir o ensino do modo tradicional por esse, pois acho que a presença física do professor é importante na sala de aula”, afirma.

Interesse pela educação cresce

Os avanços nas modalidades de ensino ainda possuem barreiras a ser vencidas. A principal ainda continua sendo a aquisição de um computador. Uma pesquisa realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil em 2010 mostrava que apesar do país estar entre os principais países que acessam a internet, para muitas pessoas os custos com aquisição de dispositivos e com a tarifa da internet ainda impedem que mais residências possuam computadores conectados. Na mesma pesquisa, 66% das pessoas afirmaram que usam a internet para ter acesso a educação, o que já mostra uma mudança entre os usuários, que antes buscavam majoritariamente entretenimento na web.

Em seu quarto o adolescente João da Silva Muniz Neto, 15 anos, joga, conversa com os amigos, assiste vídeos, baixa músicas, fala com a irmã e os pais pelo WhatsApp e também estuda. Ao invés de encontrar uma bagunça no quarto com a quantidade de pessoas que as atividades envolvem, tudo isso é feito pela internet. Assim como milhares de jovens na sua faixa etária, a prática de desenvolver diversas tarefas ao mesmo tempo se torna cada vez mais cotidiana.

Em um mundo onde as ferramentas digitais estão cada vez mais presentes, encurtando as distâncias e modificando as relações entre as pessoas, o modo de aprender e ensinar também vem se adequando a essa nova realidade. João Neto conta que a internet é sua principal fonte de pesquisas quando quer estudar. Sem deixar os livros físicos de lado, o Youtube e os sites de pesquisa se tornaram aliados na hora dos estudos.

“Gosto muito de pesquisar na internet e uso na maioria das vezes o Youtube. Sempre procuro nele ou em sites de pesquisas determinados assuntos que sinto dúvida. Mas não deixo os livros de lado, uso os módulos escolares como base para acompanhar os vídeos”, conta o estudante.

Uma das expectativas para educadores e especialistas da área é que haja adesão à internet em todas as partes do país, o que consequentemente facilitaria o acesso à educação a fim de reduzir os índices negativos do setor em algumas regiões do Brasil.

“Hoje já temos mais aparelhos de telefone habilitados do que pessoas no país. No momento em que todos esses dispositivos estiverem conectados à internet teremos a possibilidade de levar uma antena para o meio da Amazônia ou para alguma comunidade isolada de Alagoas para transmitir conteúdo. Isso seria mais fácil do que levar a estrutura física de uma escola. Outra vantagem com a universalização da internet seria poder ter vários alunos conectados pagando uma mensalidade baixa por isso, diferente do que se cobra em um cursinho. Esses avanços possibilitariam corrigir diferenças que o regionalismo nos impõe”, analisa o professor Ivys.

Segundo o professor universitário e mestrando em educação, Nasson Paulo, há uma expectativa de as de Tecnologias da Informação da Comunicação (TICs) serem difundidas na educação e implantadas também na rede de ensino público através de programas como o Programa Um Computador por Aluno (PROUCA) – Formação Brasil , Mídias na Educação  e Programa Nacional de Tecnologia Educacional (PROINFO).

“A educação a distância no país vem se consolidando como uma ação do governo federal para principalmente melhorar a Meta 16 do Plano Nacional de Educação – PNE, que prevê formar, até o último ano de vigência deste PNE, em 2020, 50% dos professores que atuam na educação básica em curso de pós-graduação stricto ou lato sensu em sua área de atuação, e garantir que os profissionais da educação básica tenham acesso à formação continuada, considerando as necessidades e contextos dos vários sistemas de ensino. Com isso, o Governo Federal vem investindo uma soma muito grande de recursos financeiros e humanos de ampliar a oferta de cursos de educação à distância para a chamada educação continuada”, completa.

Educação made in Alagoas

A arte de ensinar a dominar uma técnica ou conhecimento para quem está a léguas de distância também evoluiu ao longo dos anos. Se há mais de 80 anos as aulas eram ministradas via carta, pelo conhecido Instituto Universal Brasileiro, via rádio ou pela televisão na era do Telecurso, hoje a internet e os aplicativos são as tecnologias utilizadas para fazer o ensino quebrar as barreiras da distância.

Em Alagoas a Rede Residência desenvolveu um sistema de Ensino Multidirecional que pretende universalizar o acesso aos estudos. Inovando no conceito EAD, a Instituição aposta na realização de atividades práticas com interação virtual além das vídeo-aulas.

A tecnologia desenvolvida pela escola alagoana já chegou a mais de 100 pólos espalhados pelo país e uma das plataformas criada tem sido utilizada pelo Ministério da Saúde no Programa Nacional de Qualificação da Assistência Farmacêutica (Qualifar-Sus). O programa federal é destinado a qualificar Centrais de Abastecimento Farmacêutico em todo País, informatizando todo processo para suprir a demanda de medicamentos nos Estados.

Defensor da aliança entre tecnologia e educação, o diretor da Rede, Hélio Laranjeira, afirma que os aplicativos e a plataforma híbrida desenvolvida aqui em Alagoas quer levar a educação técnica para locais onde as condições de infraestrutura não possibilitem a presença de um professor.

“Educar não é só transmitir conteúdo, é usar a tecnologia, conhecimento e as possibilidades existentes em conjunto para mudar a realidade das pessoas”, analisa.

Já Nasson destaca ainda que a experiência de Alagoas no ensino à distância também evoluiu no mundo acadêmico. “Os trabalhos da Coordenação Institucional de Educação a Distância – CIED, na Ufal, que sob a coordenação do Prof. Dr. Luis Paulo Mercado, vem fazendo um trabalho de qualidade que vem se destacando a nível nacional com cursos como o de Física a Distância considerado um dos melhores do País. Alagoas já possui 10 polos na modalidade, nas cidades de Maceió, Arapiraca, Maragogi, Olho D`Água das Flores, Santana do Ipanema, Palmeira dos Índios, São José da Lage, Penedo, Delmiro Gouveia, Matriz de Camaragibe, com cursos de licenciatura e Bacharelado”, lembra.

Há algum tempo essa modalidade era apontada como o futuro da educação. O futuro chegou e o uso dos MOOC, sigla para Massive Open Online Course (traduzido seria como Curso Online Aberto e em Massa) aponta como um possível horizonte a ser desbravado pela educação. Nasson Paulo explica que nesse tipo de educação à distância, que vem causando muita polêmica, um professor, uma instituição ou uma empresa ofertam um curso através de vídeo aulas, que são disponibilizados em blogs, sites próprios ou dentro de uma rede social. As pessoas acessam e trocam conhecimentos, utilizando os recursos de redes sociais, tirando dúvidas de outros usuários.

“Esses cursos MOOC surgem como uma novidade por estimular a interatividade das pessoas envolvidas no processo de aprendizagem. Ou seja, coloca todo mundo em contato com todo mundo, de uma forma estruturada. Eles estão aproveitando a vontade cada vez mais das pessoas de interagir através das redes sociais. Mas há muita polêmica nessa forma de curso, pois eles não servem para a educação formal, só são utilizados para cursos informais”, diz.

Nesse mesmo horizonte, há uma tendência de se adotarem cursos híbridos, que utilizam tanto a modalidade presencial quanto à distância. Para Hélio laranjeira, o país ainda carece de inovações e precisa apostar em novas tecnologias para alavancar. “Hoje produzimos games, aplicativos, temos alunos em localidades onde tudo é precário. Além da internet, que não chega a todos os locais, optamos por levar a educação via satélite e funciona. Mas acho que ainda é preciso o governo federal pensar em mais investimentos, modificar essa estrutura educacional que perdura há mais de séculos”, completa o especialista.

Para Ivys, o atual processo que a educação no país caminha para que a internet cada vez mais atue como auxílio dos professores na hora de passar o conteúdo. “Temos uma geração que está em trânsito que não começou sua vida na internet, começaram no papel. Talvez essa mudança nos moldes educacionais seja possível com essa nova geração, que aos cinco anos ganha um tablet, que tem mais amigos dentro de uma rede social do que fora. Acredito que esse aluno não verá problema em estudar pelo computador, aí sim teremos uma quebra. Aí acho que as escolas terão que se reinventar, mas isso é só uma opinião”, analisa.

Fonte: Cadaminuto