O Fantástico, programa jornalístico da Globo, esteve em Alagoas e Pernambuco para mostrar como estão as condições de algumas cidades que foram devastadas pelas enchentes de 2010 e como milhões de reais, dinheiro público, foram investidos.
As cidades mostradas nas reportagens foram Palmares, em Pernambuco, Santana do Mundaú, Rio Largo e União dos Palmares, todas cidades alagoanas. A realidade mostrada pela reportagem não foi de grandes obras e pessoas felizes, mas de casas inacabadas, escolas destruídas, postos de saúde que não existem de fato e pessoas que são tratadas como qualquer coisa, menos como pessoas.
Foram enviados para os dois estados cerca de 3,5 bilhões de reais com destino certo: educação, saúde e reconstrução das casas dos desabrigados. O que de fato existe são as obras atrasadas quatro anos depois da tragédia das enchentes, onde milhares de alagoanos e brasileiros se mobilizaram para ajudar as diversas famílias que tiveram suas vidas destruídas com as águas das chuvas.
Foram 19 cidades alagoanas e 68 pernambucanas atingidas pelas força da enchente do Rio Mundaú, desabrigando aproximadamente 100 mil pessoas e ocasionando várias mortes.
A primeira cidade alagoana a aparecer na reportagem do Fantástico foi Santana do Mundaú, onde uma escola foi construída para receber os estudantes, mas a construção não durou muito tempo e desabou.
Segundo o representante do Governo do Estado, Herbert Motta, a construtora assumiu o erro na construção da escola e que em breve uma nova escola será construída sem custar nada mais ao Estado. Das 55 escolas que foram destruídas, ainda faltam 14 serem entregues pelo Governo de Alagoas, que não anda com pressa e sim numa morosidade já conhecida por todos.
Herbert Motta afirmou que daqui pro final do ano 100% das unidades serão entregues. Pode ter certeza que isso acontecendo o Governo do Estado irá fazer uma grande festa, apresentando tais obras, como grande conquista e não como uma grande vergonha que foi.
Depois de Santana do Mundaú a segunda cidade alagoana destaque na matéria foi Rio Largo, onde existe uma unidade de saúde que custou 500 mil reais e está completamente abandonada, sem contar uma escola que estava em construção e no momento está parada.
Segundo Toninho Lins, prefeito da cidade, o motivo dos atrasos nas obras foi uma crise política que lhe afastou do mandato por um ano e meio, já que ele foi acusado, somente, de improbidade administrativa e formação de quadrilha.
Além da escola e do posto de saúde, outro problema foi apresentado pela reportagem, são os ônibus escolares novos enviados pelo Governo Federal no começo do ano e ainda não foram usados, porque segundo prefeito os ônibus ainda não têm seguro. Enquanto isso, segue pagando mais de 100 mil reais por mês com aluguel de ônibus particulares e em péssimo estado.
A terceira e última cidade alagoana foi a histórica União dos Palmares, delas saíram as mais densas denúncias feitas pela reportagem. União foi a cidade mais devastada pela enchente, onde quase cinco mil casas foram destruídas pelas chuvas.
A reportagem mostrou, num dos conjuntos habitacionais, muitas casas vazias, abandonadas e até depredadas. Ou seja, mais dinheiro público jogado no lixo.
Muitas dessas foram dadas para pessoas que não foram vítimas da enchente, mas para pessoas que passaram por um “cadastro” na prefeitura em troca de votos. Escambo eleitoral do século XXI.
A prefeitura teria realizado diversos pagamentos para serviços que nunca foram feitos, e tudo isso sempre com notas fiscais no mínimo curiosas.
Um caso que foi retratado no Fantástico ficou muito conhecido aqui em Alagoas que foi o caso da moto que “transportou” diversos professores para um evento, moto que está em nome de um homem, que é pai de um vereador de União. Valor da nota: 2 mil reais.
Também há outros tantos pagamentos suspeitos, como de serviços nunca executados: construção de sala de aula, instalação de aparelhos de ar-condicionado e transporte de alunos e professores.
Esses detalhes grosseiros nas notas foram erro de digitação, disse um comerciante visivelmente nervoso e o prefeito Beto Baia. Porém o que se encontra é um grande equívoco, pois o erro se repete em outras notas.
O Fantástico conferiu uma nota do valor de R$ 3,5 mil, para transporte de professores. Encontraram outra moto. Só que agora, na cidade de Maranguape, no Ceará, distante apenas 900 quilômetros de União dos Palmares.
O prefeito de União dos Palmares alegou que tudo não passou de um simples erro de digitação na emissão das notas. Ao ser perguntado se ele sabia desse esquema, usou de duas palavras eternizadas por um ex-presidente: Não sei!
Beto Baia não sabia o que estava acontecendo e disse para o repórter que se sentia “muito, muito, muito constrangido”.
Quatro anos depois de tudo que aconteceu vemos que os nossos gestores são os mesmos e seus pensamentos se repetem. O coletivo não tem direito a nada, somente o particular, eles próprios.
Tais atos por mais assustadores que sejam não devem ser motivo para desacreditar da política, até porque a responsabilidade é nossa, votando ou não votando. O silêncio dos bons permite que os maus façam a festa e triunfem eternamente até que os homens de bem desse estado decidam fazer algo concreto, real e possível.
A matéria que foi apresentado no Fantástico nesse domingo não pode ser utilizada para aumentar o sentimento de vitimização de alguns medrosos e acomodados, mas de revolta e de protagonismo. Pois só com esses sentimentos que poderemos fazer o melhor pelo nosso Estado.
Quando temos orgulho do nosso chão e quando assumimos o protagonismo da nossa vida, cuidamos melhor do nosso espaço, da nossa cidade, do nosso Estado.
Alagoano assuma o papel principal dessa história e comece a real mudança que Alagoas precisa viver para transformar essa realidade.
Fonte: CadaMinuto