Centenário da Penedense Zurica Galvão Peixoto

Zurica Galvao Peixoto / Foto Divulgação
Zurica Galvao Peixoto / Foto Divulgação

A família Peixoto vem convidar para a celebração de Missa Solene pelo centenário de nascimento de ZURICA GALVÃO PEIXOTO (1914 – 2005), alagoana de Penedo, e pelos 111 anos de MARIA DA CONCEIÇÃO SOUZA (1903 – 1980), cearense de Baturité (se vivas fossem), a se realizar no dia 16 de dezembro, terça-feira, às 18 horas, na Igreja Matriz de São João Batista da Lagoa, situada na Rua Voluntários da Pátria, nº 287, no bairro de Botafogo, Rio de Janeiro.

Zurica Galvão Peixoto, única filha penedense de Fernando da Silva Peixoto (1889 – 1980), alagoano de Penedo, e de Laura Galvão Peixoto (1889 – 1973), uma sergipana de Brejo Grande. Era irmã caçula de Danilo Galvão Peixoto (1911 – 1981), Murilo Galvão Peixoto (1912 – 1935) e Perilo Galvão Peixoto (1913 – 2002), baianos de nascimento, mas penedenses de coração. Todos, netos do Comendador Manoel da Silva Peixoto (1847 – 1910), o negociante lusitano que impulsionou o desenvolvimento comercial e industrial na cidade de Penedo e no Baixo São Francisco, na segunda metade do século 19, e casou-se em 1870 com a penedense Anna da Silva Peixoto (1855 – 1932).

Maria da Conceição Souza, uma cearense de Baturité, veio muito jovem, em meados da década de 1910, trabalhar para os Peixotos, em Penedo, deixando sua terra natal. De pais desconhecidos, logo foi adotada por Seu Fernando e Dona Laura. Como havia mais empregadas com o mesmo nome, chamaram-na, carinhosamente, “Maria Ceará”.

Maria Ceará não só cuidou dos quatro filhos do empresário “Seu Fernandinho” no Chalé dos Peixotos (1914 – 1933), como acompanhou a família Peixoto quando de sua mudança de Maceió para o Rio de Janeiro, em 1937/38. Em Copacabana, nos anos 1950 e 60 teve participação importante na criação dos netos do casal. Era exímia cozinheira e muito religiosa. A exemplo de Zurica, nunca se casou e não teve filhos, e, como esta, também dedicou a vida a seus semelhantes.

Fiel escudeira da família e considerada uma tia, Maria da Conceição Souza faleceu em 1980, aos 76 anos. Seus restos mortais estão sepultados no jazigo perpétuo dos Peixotos, erigido em 1946, no Cemitério São João Batista, em Botafogo, no Rio de Janeiro. Zurica Galvão Peixoto se foi em 2005, aos 90 anos. Ela sempre residiu no bairro de Copacabana, por onde gostava de caminhar, elegante, sozinha. Mesmo em idade avançada, fazia questão de ir assiduamente à missa. Antenada com o seu tempo, Zurica ouvia rádio, via televisão, lia os periódicos e escrevia muito. Algumas de suas poesias foram publicadas postumamente pelo jornal TRIBUNA PENEDENSE, por iniciativa do saudoso jornalista Everaldo Peixoto Gama. Há também um longo depoimento seu exposto no museu da Fundação Casa do Penedo, em Alagoas, como antiga moradora do Chalé dos Peixotos [anteriormente, “Chalé dos Loureiros” e “Chalé dos Figueiredos”].

Em dezembro de 2005, quando Zurica teria completado 91 anos, o jornalista ANTONIO CASTIGLIOLA (1951 – 2010) publicou em seu jornal FOLHA DA PRAIA extensa reportagem sobre a sua vida, intitulada UMA VIAGEM PELO MUNDO FANTÁSTICO DE ZURICA PEIXOTO, que transcrevo a seguir.

“Inigualável. Insuperável. Os adjetivos não são gratuitos tratando-se de Zurica Galvão Peixoto. Escritora, poetisa – mais de 100 obras manuscritas, nunca publicadas – essa penedense de nascimento, carioca e copacabanense por adoção fincou raízes com a família no bairro no longínquo ano de 1937. Sempre transbordou, em vida, um lado solar contagiante, capaz de contaminar quem com ela teve o privilégio de conviver – parentes, amigos e admiradores (muitos) – que compartilhavam o ser humano único e inesquecível feito Zurica.”

“Se é verdade, como já dizia o escritor Robert Zend [1929 – 1985] que, ‘no mundo há gente demais, mas não há bastantes seres humanos’, a definição não cabe quando se fala de Zurica Galvão Peixoto. Além de cultivar os sentimentos mais genuinamente humanos, ela é referência de dignidade, integridade. E de caridade – em vida, sem espalhafato, como convém, sempre se solidarizou com os despossuídos.”

“Irmã de Perilo Galvão Peixoto, médico, jornalista, literato e radialista – foi o criador do programa ‘Ópera Completa’, na Rádio MEC – Zurica teve refinada educação. Além da formal, feita nos colégios de Penedo, contava ainda com professoras particulares e uma preceptora irlandesa, Margareth Edmond Doyle. Ela era descendente do famoso escritor britânico Sir Arthur Conan Doyle, e fora contratada pelo pai, Fernando da Silva Peixoto, numa viagem ao Rio de Janeiro, para a educação dos filhos em Penedo. O que, certamente, contribuiu para neles desenvolver  o gosto pelas letras, a arte como atividade maior, incluindo a musical.”

“Na terra onde nasceu e viveu a infância e parte da juventude – de 1914 a 1933 – ela se tornou uma espécie de memória do lugar, no que se refere a esse período da história da cidade. No Chalé dos Peixotos, edificação do final do século 19, onde morou com a família, vai funcionar um memorial da Fundação Casa do Penedo, criada e dirigida pelo médico e literato Francisco Alberto Sales. A quem, aliás, ela concedeu, há cerca de quatro anos, entrevista de mais de três horas – hoje, engrossando o arquivo da Fundação. Como homenagem póstuma, a instituição manteve bandeiras hasteadas a meio pau, durante três dias, após a morte dela.”

“Penedo e a família sempre estiveram vivos em sua memória. Foi numa carta ao jornalista Everaldo Gama [falecido em 2014], da Tribuna Penedense, em outubro de 2004, que ela transbordou saudades.”

“- Embora longe de Penedo, há tanto tempo, graças ao poder extraordinário do pensamento, muitas vezes viajo a minha terra natal, percorrendo todos os recantos da minha antiga casa, todos os lugares conhecidos da cidade, relembrando parentes, amigos e vizinhos, sentindo uma saudade imensa de tudo que me cercou, saudade essa que permanecerá eternamente – escreveu, emocionada.”

Prossegue o jornalista ANTONIO CASTIGLIOLA (1951 – 2010), na FOLHA DA PRAIA nº 2291, de dezembro de 2005:

“A ‘menina Zurica’, como a chamava, mesmo aos 90 anos, o já centenário poeta Hildegardo Dória Mendonça [1905 – 2008], com quem manteve correspondência até os últimos dias de sua vida, era também exímia dançarina – ela e o irmão Murilo formavam dupla que lembrava o célebre par Ginger Rogers e Fred Astaire. A ponto de despertar a cobiça de um diretor de uma companhia de dança francesa, num convés de um navio, que ia de Recife para o Rio de Janeiro, com escala em Alagoas, conduzindo a trupe musical. Seus passos precisos e harmoniosos valeram ao duo um convite para integrar o conjunto musical.”

 “O sobrinho Fernando Moura Peixoto, com quem ela conviveu os últimos dias de sua vida, também lembra a vitalidade que ela esbanjava, ainda aos 80 anos. Foi numa festa no Clube Ginástico Português, no Centro do Rio, com orquestra sob o comando de Severino Araújo [1917 – 2012], que ela salpicou pelo salão, deixando o sobrinho – seu par na dança e 30 anos mais novo – esbaforido.”

“ – Tia Zurica transbordava energia, física e mental. Mesmo aos 90 anos, lia jornais e revistas diariamente, nem que para isso tivesse que recorrer a uma lupa nos textos em letras mais diminutas. Leitora assídua da colunista Heloísa Seixas, na Revista de Domingo do Jornal do Brasil, não dispensava as seções de política e economia. Era uma mulher antenada ao seu tempo – relembra um emocionado Fernando Peixoto.”

“Elegante no falar aprumado e no pensar, ela também incorporava essa finura no seu jeito especial de vestir. É o primo Ricardo Cravo Albin, musicólogo, quem conta.”

“ – Ela era dotada de elegância natural. Mesmo usando trajes simples, dava às vestimentas contornos especiais – qualquer tipo de roupa sempre lhe caía muito bem – esclarece o presidente do Instituto Cultural que leva o seu nome.”

Zurica Galvão Peixoto foi-se num começo de noite enluarada de 16 de julho de 2005, depois de padecer alguns dias na Clínica Ênio Serra, em Laranjeiras. A lua que brilhava radiante naquela noite fatídica foi substituída, na manhãzinha, por um sol fulgurante, como a despedir-se daquela que, em vida, brilhou como um ser solar.”

Em um “box” da matéria, intitulado ZURICA PEIXOTO, A POETISA DA SAUDADE, concluiu o jornalista ANTONIO CASTIGLIOLA (1951 – 2010) em sua FOLHA DA PRAIA de dezembro de 2005:

“Filha do empresário alagoano Fernando da Silva Peixoto – era do ramo têxtil e da navegação fluvial – e da sergipana Laura Galvão Peixoto, Zurica homenageou a mãe numa de suas últimas poesias. Que fala de saudades daquela a quem sempre teve como referência de vida. A mesma saudade que ela também sempre cultuou com relação aos seus outros três irmãos, também já falecidos: Danilo Galvão Peixoto, engenheiro civil, Murilo Galvão Peixoto, promotor de Justiça, e Perilo Galvão Peixoto, médico, jornalista, radialista e literato.”

“Católica por formação – frequentava a Paróquia de Nossa Senhora de Copacabana, para onde, aliás, foram doados todos os apetrechos religiosos que possuía, como bíblias, imagens sacras e santinhos. Os objetos pessoais, por orientação do sobrinho Fernando, chegaram à Associação Espírita Obreiros do Bem, instituição filantrópica mantenedora do Hospital Psiquiátrico Pedro de Alcântara.”

“Zurica cultuava, como poucos, as boas amizades. Entre as amigas prediletas, a prima penedense Ilza Braga Galvão [1919 – 2008], Maria José Lessa Benemond – essa era considerada uma irmã – e as cunhadas Maria José dos Santos Peixoto e Anna Maria Ferraço Peixoto.”

“Num momento de profunda inspiração, nostalgia à flor da pele, a lembrança da mãe traduzida no ‘Poema de Saudade’.

“POEMA DE SAUDADE

Saudade de ti, minha Mãe!

Saudade de tua presença amiga,

Saudade de tua ternura,

Do teu aconchego,

Do teu afago

E de teu carinho.

Saudade… Quanta saudade

Da tua voz suave

A chamar-me docemente.

Saudade… Quanta saudade

De ouvir os teus conselhos,

Escutando tuas palavras

Cheias de bondade e otimismo,

Dando-me força e coragem

Para suportar os embates da vida.

Saudade… Quanta saudade…

Laura… Laura…

Minha Mãe Querida!

ZURICA GALVÃO PEIXOTO (1914 – 2005)”