Homenagem póstuma

Hoje , gostaria de prestar minhas homenagens a uma mulher ímpar , inesquecível. Estaria hj, 25 de setembro , completando 95 anos. Nos deixou há longos 5 anos. Minha mãe, Clélia Mendonça Lima Lins. Com uma trajetória de vida única , segunda filha de um pai já maduro e de uma mulher jovem e infantil , uma boneca q meu avô venerou até a sua morte, bem antes de minha avó.

A primeira filha , tia Neusa foi treinada em todas as artes do lar , cozinhar , costurar e estudar pra ser professora também. E por ironia, aquela q tentou substituir o filho homem q seus pais não tiveram, tornando-se companheira em todas as atividades de seu pai , foi a primeira q casou. Aos 19 anos, minha mãe já trabalhava e se sustentava. Era professora de artes e era realmente uma artista , tudo o q tocava virava beleza e magia !
Faz parte da história de muitos casais penedenses , com os bolos confeitados maravilhosos que criou para o casamento de muitos dessa cidade e até de fora de Penedo. Só não pedisse a ela pra cozinhar , odiava , mas se precisasse subir no telhado pra consertar uma goteira, ela subia! Chamasse pra uma guerra de espadas, ela ia ;chamasse pra ir no mar, ela ia e se tornava criança outra vez.
Casou-se aos 40 anos com sua vida profissional estabelecida e estável, comum hoje? Sim , mas não há 54 anos atrás. Para surpresa de muitos, engravidou 4 vezes e teve 2 filhos saudáveis, com alguns defeitinhos de fabricação perfeitamente aceitáveis. Aposentou-se prematuramente pra cuidar da família ,e por pressão de meu pai , homem do sertão , com pouca tolerância pra mulheres inteligentes e independentes. Não q ele não fosse inteligente ,ele era e muito, honesto , íntegro , mas carregava consigo a marca do machismo ,tão em moda até hj.
Minha mãe adaptou-se à vida restrita ao lar e de vez em quando fugia da realidade q a incomodava , com certeza , lá no fundo de seu espírito livre; fazendo coisas incomuns para uma mãe ,como construir um circo só pra crianças: O mini circo Alegria, q encheu de diversão a gurizada pobre q morava nos arredores. Televisão naquela época era luxo de poucos.
Fazer uma boneca de carnaval , pra nosso bloco de crianças , a Prissi , em homenagem a uma criada negra do filme “E o vento levou”, q ela era fã e me contou não sei quantas vezes. Tinha então o bloco de adultos com a Raquel , loira e de olhos azuis e o nosso com a Prissi linda e negra criada por minha mãe.
Mulher de saúde de ferro , nunca teve uma virose sequer e me dizia que não sabia o q era dor de cabeça, se houvesse vários como ela , seria a falência de muitos médicos.
Quero agradecer a Deus pela mãe q tivemos , pena q nem eu nem meu irmão, Uel, tenhamos herdado suas habilidades artísticas e a sua saúde inacreditável.
Quero agradecer vc, mãe, por todas as lindas histórias q nos contou, conhecemos muitas partes do mundo através de suas ricas narrativas, pelo seu amor incondicional aos seres humanos e animais, pela honestidade total e até inocência perante às maldades da vida.
Pela falta de vaidade ou arrogância, pela simplicidade em encarar a vida e seus problemas.

Obrigada mãe , pelo sorriso lindo , emerso das brumas do Alzheimer, q me deu , poucas horas antes de partir dessa Terra. Alzheimer , a única doença q te venceu.
Que os anjos estejam em festa hj e q vc esteja nos vendo, a todos , a grande família q ficou. Curtindo meus cachorros e gatos e a agitação , bom humor e conversas longas do seu filho adorado. Que esteja orgulhosa de seus netos e de toda semente do bem q herdamos de vc.
Q seus cabelos branquinhos , q nunca viram uma tintura na vida , estejam te camuflando entre as nuvens e q esteja nos observando. Nós te amamos, eu e Uel , pelo q vc foi e pelo que nos fez ser. Feliz aniversário, mainha!

Drª Verônica