Esta quarta-feira (25) será marcada por uma ação inédita: a soltura dos casais de Mutum-de-alagoas na natureza. A ave não é encontrada em seu ambiente natural há 30 anos, por isso é considerada extinta. O Estado, que é o primeiro a fazer uma ação desse tipo, conta com um coletivo de diversas entidades. A preocupação agora é com a integridade dos animais.
“Essa ação mostra o compromisso de Alagoas com a conservação da fauna mundial, porque é uma ave extinta que está retornando para seu Estado de origem, para seu habitat natural. Isso é um caso único na América, nunca aconteceu esse tipo de ação”, frisou Gustavo Lopes, diretor-presidente do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA/AL).
Além de o IMA/AL, o Plano de Ação Estadual (PAE) é coordenado pelo Instituto de Proteção a Mata Atlântica (IPMA), Ministério Público Estadual (MPE), Batalhão de Polícia Ambiental (BPA), Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh), Sindicato do Açúcar e do Alcool (Sindaçucar) e Federação das Indústrias de Alagoas (FIEA). Contando, ainda, com a colaboração da Universidade de São Paulo (USP), Museu de Zoologia da USP (MZUSP) e Universidade Federal de São Carlo (Ufscar).
“Desde 2015 estamos em uma grande força tarefa, mas,agora, nesse momento, vamos conseguir fazer a ação principal que é reintroduzir um animal extinto de volta à natureza”, disse Gustavo Lopes. O diretor-presidente ainda complementou que “o IMA tem trabalhado junto aos parceiros viabilizando toda a infraestrutura e ações administrativas para garantir o sucesso da reintrodução”.
Mutuns
São três casais que serão levados para um fragmento de mata atlântica. “Animais jovens que acabaram de entrar ou vão entrar na fase de maturidade sexual, segundo as informações do criadouro onde eles estavam mantidos e foram selecionados. São três fêmeas e três machos saudáveis, avaliados e anilhados”, explica Epitácio Correia, gerente de Fauna, Flora e Unidades de Conservação do IMA.
Os animais chegaram em Alagoas no último dia 19, após terem sido buscados na Sociedade de Pesquisa da Fauna Silvestre (CRAX), em Minas Gerais. “Já há pesquisadores da USP e da UFSCAR alocados lá na mata, aguardando esse momento ideal que foi pensado após a aclimatação do animal”, comenta Gustavo Lopes.
Após a soltura, as aves serão monitoradas cotidianamente. Para isso, elas “também têm um sistema eletrônico de telemetria, que vai emitir diariamente sinais de GPS para que os pesquisadores acompanhem o deslocamento e o comportamento”, explica Epitácio Correia.
O gerente alerta, ainda, que há riscos sérios, tanto para o sucesso do projeto como para a integridade dos animais: “Mesmo com toda a ação das entidades que possuem frentes de combate às infrações e aos crimes ambientais, como o IMA, o Batalhão de Polícia Ambiental e o Ministério Público, a gente ainda identifica a caça como um dos maiores problemas. Foi um dos fatores que levou ao declínio do animal na natureza”.
Epitácio comenta ainda que os caçadores podem comprometer o trabalho que levou mais de quatro décadas para se concretizar. “Hoje nós temos um fragmento de mata onde é possível soltar o animal na natureza, mas em Alagoas e em todo o Nordeste ainda existe uma espécie de costume degradante chamado caça” comenta.