“Quando a quadrilha entra na arena, a gente sente uma emoção inexplicável por ter conseguido chegar até ali mesmo com todas as dificuldades. A gente começa a dançar chorando, pois estamos realizando mais uma parte do nosso sonho”. Esse relato emocionado de Adeilson de Sousa (Deinho), coreógrafo das quadrilhas Capelinha do Forró e da Cia da Ilha, se tornou, atualmente, apenas mais uma lembrança junina.

Há dois anos, os campeonatos de quadrilhas foram suspensos não só na Bahia, como em todo o Nordeste, devido a pandemia do novo coronavírus. Mas, como fica a situação desses grupos e dos brincantes (integrantes das quadrilhas) durante todo esse tempo?
Para além de toda a ligação emocional dos brincantes com os concursos e apresentações, há também uma responsabilidade social das quadrilhas e toda uma economia que gira em torno destes grupos.
“Quando nós paramos, dívidas foram se acumulando, pois os integrantes se prepararam para o São João de 2020 e quando chegou em março tudo foi suspenso devido a pandemia do coronavírus. As quadrilhas também fazem um trabalho socioeducacional com os jovens das comunidades periféricas, mas durante esse período eles estão desassistidos e tememos que haja evasão dos brincantes e os grupos fiquem desfalcados”, explicou o presidente da Federação Baiana das Quadrilhas Juninas (Febaq), Carlos Brito.

Ao mesmo tempo que enriquecem a cultura popular, integram competições regionais e nacionais e acolhem os jovens em uma ação socioeducacional, as oitenta quadrilhas baianas também movimentam o comércio local. Cada ano, cada quadrilha escolhe um tema específico e novos figurinos, cenografia, canção e coreografia são desenvolvidos pela equipe. Os gastos anuais de um só grupo giram em torno de R$200 mil.
“Quando o período das competições se aproxima, toda uma rede de economia criativa é gerada em torno dos grupos com costureiras, estilistas, produção, músicos… São muitas pessoas envolvidas, pois em cada quadrilha há uma média de cem integrantes. Este período da pandemia evidenciou ainda mais que nós precisamos de apoio de empresas privadas, através de patrocínios, e do próprio governo do estado, com editais específicos de fomento à cultura”, pontuou Brito.
Com muita saudade, mas sem perder o ritmo
Entre as aulas de dança, o trabalho como analista técnico e hobby de corrida, Deinho sempre arranja tempo para o que mais ama: ser coreógrafo das quadrilhas Capelinha do Forró e Cia Junina de Itaparica.
Com o isolamento social, os ensaios e a convivência ficam prejudicados, mas o grupo tenta ficar unido através das transmissões ao vivo e das competições online.
“No presencial, a gente tinha essa prospecção de demanda, a gente buscava bailarinos, fazíamos apresentações nos bairros, o público se encantava… Através da internet, a gente tenta deixar essa fogueira acesa, mas é muito diferente. É difícil você pensar em uma quadrilha em que você não conduza a sua dama. Hoje a gente não pode fazer isso e, quando conseguimos fazer pares nas transmissões, é com um grupo super reduzido. Tentamos fazer concursos online, mas não é a mesma coisa, pois não conseguimos abraçar todo o grupo”, lamentou Deinho, que hoje tem 47 anos, mas entrou no mundo das quadrilhas com 18 anos de idade.
Mesmo com as dificuldades, a Capelinha do Forró irá fazer uma live no dia 5 de julho para fazer uma homenagem, em um live, para os integrantes do grupo que faleceram durante a pandemia.

A Cia da Ilha, por exemplo, irá lançar um tema em julho, com transmissão online de um pequeno grupo de dançarinos da quadrilha, como forma de alento neste período de isolamento social.

Fonte: iBahia