Análise do VAR: Bournemouth com o “gol” de mão, Joelinton com o vermelho


O árbitro de vídeo causa polêmica toda semana na Premier League, mas como as decisões são tomadas e elas estão corretas?

Após cada fim de semana, analisamos os principais incidentes para examinar e explicar o processo tanto em termos do protocolo do VAR quanto das Leis do Jogo.

Na análise do VAR desta semana: Foi correto descartar o gol da vitória tardia do AFC Bournemouth contra o Newcastle United? E Joelinton deveria ter visto o cartão vermelho? Além disso, dois incidentes de pênalti contenciosos em Manchester City vs. Ipswich Town.


Possível mão na bola: Ouattara ao marcar

O que aconteceu: O Bournemouth marcou o que eles pensaram ser um gol da vitória aos 92 minutos quando Dango Ouattara pareceu cabecear para casa um escanteio de Lewis Cook. O árbitro, David Coote, deu o gol, mas foi verificado por um possível toque de mão pelo VAR, Tim Robinson.

Decisão do VAR: Gol anulado.

Revisão do VAR: Tudo começou tão bem. O julgamento do Painel Independente de Incidentes de Partidas Principais da Premier League, seja qual for a sua opinião, deu um dos seus boletins mais limpos do Matchday 1. Apenas um voto de 195 em 39 incidentes disse que houve um erro. Isso, para registro, foi para o pênalti do West Ham United contra o Aston Villa.

Mas a PGMOL tem muito pouco crédito no banco após uma temporada problemática de 2023-24 com um catálogo de incidentes de alto perfil. Não demoraria muito para que a percepção de fracasso voltasse a se infiltrar. De fato, a vice-presidente do West Ham, Karren Brady, até conseguiu dar um chute na sua coluna de jornal no sábado, apesar de um primeiro fim de semana imaculado.

O que a Premier League realmente precisava era de um agosto forte, sem controvérsias (você nunca perderá os incidentes contenciosos). No entanto, em poucos minutos neste jogo, o pior do VAR mostrou sua cabeça novamente.

Não há nada mais irritante para os fãs do que o árbitro de vídeo anular um gol dramático e tardio da vitória — principalmente quando se mostra injusto.

Não havia prova definitiva para dizer que a bola atingiu o braço de Ouattara, onde é uma infração de mão na bola. Talvez tenha atingido, talvez não — mas sem evidências conclusivas, o VAR não deveria anular o gol. Se houver dúvida, deveria ficar com a decisão em campo — e o Bournemouth deveria ter tido um gol da vitória no final.

Vale a pena discutir o contexto também. Ao contrário da crença popular, o handebol não começa na parte inferior da manga. Isso não faria sentido quando alguns jogadores usam camisas de manga longa.

Até 2021, não havia uma definição de handebol nas leis, mas todo o braço era usado em geral para determinar uma infração. Então, até 2021, esse gol teria sido corretamente anulado.

Então, o IFAB confundiu todo mundo ao dizer que a “linha de camisetas” deveria ser usada. (Preparem-se para a definição.)

O que isso realmente significava era o ponto na parte inferior da axila ao redor da circunferência do braço. Faz sentido? Não realmente. Mas, na verdade, o IFAB estava dizendo que a área do ombro agora não é handebol, quando antes era.

É um lugar extremamente difícil de identificar. Onde começa a infração de handebol? E se parte da bola estiver tocando abaixo desse ponto? Ou precisa ser toda a bola? E como isso é determinado consistentemente com base em diferentes posições de braço?

Poucas mudanças nas leis nos últimos anos ajudaram os árbitros, e isso tornou o handebol mais difícil de julgar.

Não se trata de “claro e óbvio” ou da nova “chamada do árbitro”. Isso se refere apenas a situações realmente subjetivas, como possíveis cartões vermelhos e penalidades. Handebol antes de marcar é considerado factual, logo, se a bola tocar o braço, não pode ser um gol, independentemente da posição do braço do jogador.

Mas uma decisão que é considerada factual na definição ainda pode ser subjetiva na aplicação. É possível que dois oficiais cheguem a julgamentos diferentes sobre esse gol. Em outras ligas, o árbitro pode ser enviado ao monitor para “vender” a decisão: é um momento tão grande, que define a partida, que não é totalmente claro, então o árbitro deve fazer a chamada final, mesmo que pelo protocolo estrito não seja necessário. Este nunca foi o caso na Premier League.

Este foi apenas o nono jogo como VAR para Tim Robinson, que é uma nomeação recente para a lista da Premier League. Nas oito partidas anteriores, ele teve um erro em seu nome, a falha em marcar um pênalti para o Nottingham Forest contra o West Ham em fevereiro.

Ouattara teve gols anulados pelo VAR em cada uma das duas primeiras rodadas.

Possível cartão vermelho: Joelinton sobre Neto

O que aconteceu: Poucos minutos depois, o Newcastle estava no ataque, e depois que o goleiro do Bournemouth, Neto, pegou a bola para começar um contra-ataque, ele foi derrubado por Joelinton. O árbitro Coote advertiu o jogador do Newcastle por comportamento antidesportivo. Mas havia um caso para um cartão vermelho?

Decisão do VAR: Nenhum cartão vermelho.

Revisão do VAR: Se há uma área que a Premier League tem lutado para definir com o VAR, é jogo sujo sério e conduta violenta. Na temporada passada, das 24 intervenções subjetivas perdidas, oito estavam relacionadas a cartões vermelhos diretos.

Para Coote, isso pode ter parecido puramente como se Joelinton tivesse arrastado o goleiro para trás para evitar um contra-ataque rápido, mas a altura do desafio, com o braço na área do pescoço de Neto enquanto ele corria, cruzou a linha para uma ação perigosa, e um cartão vermelho parece um resultado justificado. O VAR decidiu que a decisão do árbitro de mostrar o amarelo não estava claramente errada, mas, ao mesmo tempo, Robinson sentiu que havia evidências suficientes para anular o gol do Bournemouth.

No último fim de semana, o Arsenal queria um cartão vermelho depois que Yerson Mosquera pareceu agarrar Kai Havertz pelo pescoço, mas com essa decisão (nenhuma intervenção do VAR foi unanimemente apoiada pelo painel KMI) havia uma explicação válida de que foi acidental, já que o jogador do Wolverhampton Wanderers tentou se preparar para a queda.

Não é o caso aqui, pois o ato de Joelinton foi deliberado para parar Neto e o fez de uma forma que poderia ter causado ferimentos ao seu oponente. Nenhum outro esporte permitiria que um jogador permanecesse em campo após tal desafio, e o futebol deveria se atualizar.

Fabian Schär foi expulso contra o Southampton na semana passada pela menor das cabeçadas, mas as leis do futebol cobrem especificamente um jogador que tenta fazer isso (daí o Newcastle perder seu apelo contra a proibição do jogador). As ações de Joelinton são deixadas muito mais abertas à interpretação nas leis, quando talvez não devessem ser.


Possível penalidade: desafio de Davis em Savinho

O que aconteceu: O Manchester City estava no ataque no nono minuto quando Savinho caiu na área após um desafio de Leif Davis. O árbitro Sam Allison ignorou os pedidos de pênalti e foi verificado pelo VAR, David Coote (assista aqui).

Decisão do VAR: Pênalti, marcado por Erling Haaland.

Revisão do VAR: Tomada isoladamente, essa decisão não teria levantado muita discussão. O desafio de Davis em Savinho tem méritos claros para um pênalti, com o jogador do Ipswich não recebendo a bola e fazendo algum contato com o adversário. Foi o suficiente para um pênalti do VAR? Não é o mais claro que veremos, mas provavelmente foi justo o suficiente.

Mas, em conjunto com o pênalti que o Ipswich não conseguiu no final do tempo, isso contribui para a narrativa (assim como Bournemouth x Newcastle) de que os clubes maiores têm as decisões sobre os times percebidos como menores.

Possível penalidade: desafio de Savinho em Davis

O que aconteceu: Os papéis foram invertidos no 42º minuto quando Davis invadiu a área e foi derrubado por Savinho. O árbitro Allison dispensou os apelos, e novamente foi analisado por Coote no hub do VAR.

Decisão do VAR: Sem penalidade.

Revisão do VAR: Desta vez, o VAR decidiu que a decisão do árbitro de não marcar pênalti estava correta. O desafio de Savinho foi considerado desajeitado em vez de cruzar o limite para uma falta.

Davis parecia estar caindo antecipando o contato, e seu pé direito parecia sair para iniciá-lo. Mas há um argumento que é superado pelo contato da parte superior do corpo, quadril com quadril, que fez o jogador do Ipswich cair.

Cada um desses incidentes tem seus méritos para uma cobrança de pênalti, mas ambos foram a favor do clube maior.


Possível impedimento: Vardy sobre o gol de Faes

O que aconteceu: Wout Faes pensou que tinha empatado para o Leicester City no 38º minuto quando ele cabeceou para o goleiro do Fulham Bernd Leno, mas a bandeira foi levantada por impedimento contra Jamie Vardy, que foi considerado estar na linha de visão do goleiro. Foi verificado pelo VAR, Jarred Gillett.

Decisão do VAR: Meta.

Revisão do VAR: Vardy estava em contato com Leno quando o escanteio foi marcado, mas o julgamento de impedimento só começa quando Faes cabeceia a bola. Isso define a posição, e a partir desse ponto as ações de Vardy entram em jogo.

O ângulo atrás do gol mostrou que no ponto em que Faes fez contato, Leno tinha uma visão clara da bola, e Vardy não fez nenhuma tentativa de jogá-la nem cruzou o caminho do goleiro. Se Vardy estivesse diretamente na frente do goleiro, o gol teria permanecido anulado.

O árbitro Darren Bond teve que ir até o monitor ao lado do campo para tomar a decisão, pois essa era uma decisão subjetiva que exigia interpretação, diferentemente de um impedimento padrão e factual.


Possível impedimento: gol de Garnacho

O que aconteceu: O Manchester United assumiu a liderança no Brighton & Hove Albion aos 70 minutos, quando Alejandro Garnacho chutou de lado para uma rede vazia, com o goleiro Jason Steele encalhado. Mas enquanto o internacional argentino comemorava, o VAR, Chris Kavanagh, estava verificando um possível impedimento.

Decisão do VAR: Gol anulado.

Revisão do VAR: Todos pensaram que era um gol de Garnacho, mas os replays logo mostraram que a bola havia acertado Joshua Zirkzee.

A questão era: isso aconteceu antes de cruzar a linha? Aconteceu: o joelho do internacional holandês estava na linha quando ele tocou na bola.

Parece uma decisão dura, porque não há nenhum defensor por perto, e a posição de Zirkzee não teve nenhum impacto material no resultado; a bola iria para a rede.

Mas como a bola tocou em Zirkzee antes de entrar, ele é o artilheiro, e é impossível marcar um gol estando impedido.

Uma situação frustrante para o Manchester United, mas havia apenas um resultado possível para essa decisão de impedimento.


Possível cartão vermelho: desafio de Mosquera em Caicedo

O que aconteceu: Yerson Mosquera recebeu um cartão amarelo aos 71 minutos após uma forte entrada em Moisés Caicedo. Houve um caso para um cartão vermelho?

Decisão do VAR: Nenhum cartão vermelho.

Revisão do VAR: Mosquera correu o risco com esse desafio, pois ele estava sobre a bola em um momento. No entanto, o contato com o jogador do Chelsea foi na parte superior do pé, então um cartão amarelo foi a decisão correta. Se o jogador do Wolves tivesse feito contato com a canela, uma intervenção do VAR de John Brooks era muito provável.


Algumas partes factuais deste artigo incluem informações fornecidas pela Premier League e pela PGMOL.



Fonte: Espn