Marta lutou contra as lágrimas ao sair do palco olímpico pela última vez.
Depois de 185 aparições pelo Brasil, incluindo seis Copas do Mundo e seis Olimpíadas, um dos grandes nomes do esporte teve mais uma chance de conquistar um grande título internacional no sábado.
O ouro olímpico escapou dela novamente.
Marta, no entanto, ainda consegue ver o lado positivo, apesar da derrota por 1 a 0 para os Estados Unidos na final olímpica.
“Um sentimento de orgulho, muito orgulho”, ela disse aos repórteres depois. “Não acho que quando ganhei a medalha de prata nas duas vezes, em 2004 e 2008, senti tanto orgulho quanto sinto agora com esta medalha de prata.
“Porque foram 16 anos de espera para voltar a uma final olímpica e pelo histórico da equipe em competições anteriores, sejamos honestos, quase ninguém acreditava que o Brasil chegaria a uma final olímpica, que o Brasil sairia daqui com uma medalha.”
Aos 38 anos, Marta disse antes dos Jogos de Paris que seria seu último grande torneio com a seleção nacional. Não haveria um final perfeito para uma jogadora que foi porta-estandarte do futebol feminino, já que os EUA a relegaram à prata mais uma vez.
É uma experiência muito familiar para a seis vezes jogadora do ano. Os EUA provaram ser um obstáculo frequente para suas ambições internacionais.
Adicione Paris 2024 a Atenas 2004 e Pequim 2008. Em todas as três ocasiões, Marta e o Brasil foram derrotados pelas americanas na disputa pelo ouro.
E então três pratas são o ápice de suas conquistas no futebol internacional, junto com uma medalha de vice-campeonato na Copa do Mundo de 2007. Apesar de todo seu brilhantismo — marcando um recorde de 119 gols por seu país — ela nunca conseguiu entregar um grande título internacional.
Mas ela chegou bem perto em uma última campanha tumultuada.
Houve lágrimas de angústia quando ela pensou que suas Olimpíadas tinham terminado com um cartão vermelho contra a Espanha na fase de grupos. Lágrimas de alegria ao assistir das arquibancadas enquanto o Brasil eliminava a nação anfitriã França nas quartas de final e frustração novamente quando um apelo para ter sua suspensão reduzida foi anulado e ela perdeu as semifinais também.
Houve cenas emocionantes novamente quando ela abraçou o técnico do Brasil, Arthur Elias, no meio do campo no final da final de sábado, e ela foi aplaudida ao sair do palco.
“A confiança que depositamos no trabalho do técnico Arthur e a forma como conseguimos lidar com os altos e baixos desta competição — atletas se machucaram, perdi dois jogos, as pessoas começaram a falar mal: ‘Marta tem que jogar, Marta não tem que jogar’.
“Não era o momento para isso, o momento era de nos fecharmos e realmente tentamos minimizar esses obstáculos, nos fechamos e chegamos à final.”
Marta diz que é hora de passar o comando para a próxima geração, mas ao se despedir, ela novamente pediu que o futebol feminino no Brasil receba mais apoio.
“Essa medalha aqui representa a recuperação do orgulho que temos em ver que o futebol feminino no Brasil pode ser competitivo”, completou. “Talento existe, mas precisa ser mais valorizado, caramba! Tem muita gente que não assiste futebol feminino, mas quando a gente perde eles são os primeiros a comentar, os primeiros a ir falar sobre isso.
“Todos os títulos que conquistamos, sejam individuais ou coletivos, no futebol feminino, são para aquelas pessoas que sempre acreditaram em nós desde o primeiro momento, e muitas das quais estavam nas arquibancadas aqui nos dando esse apoio, sabe, família, amigos. Devemos isso a eles e compartilho minha gratidão com eles. Não devemos nada a esses outros que aproveitam o momento e falam um monte de besteira.”
Seus companheiros de equipe a orgulharam em sua ausência, dando-lhe uma última chance de ganhar o ouro e talvez tenha sido indicativo de seu impacto decrescente o fato de ela ter sido deixada de fora da escalação inicial contra os EUA.
Gabi Portilho, Adriana e Ludmila ressaltaram a profundidade ofensiva do Brasil.
E esse trio ajudou o Brasil a dominar as chances no primeiro tempo, mas não conseguiu reproduzir a mesma atitude que fez o time derrotar a campeã mundial Espanha nas semifinais.
Aos 61 foi a vez de Marta. Com o Brasil perdendo por gol de Mallory Swanson minutos antes, Elias mandou para um ícone do futebol nacional.
Aplausos ecoaram pelo Parc des Princes, e houve suspiros de expectativa após seu primeiro toque e novamente quando ela defendeu uma cobrança de falta no final da partida.
No entanto, foi Adriana quem chegou mais perto do empate, quando sua cabeçada foi defendida pela goleira dos EUA Alyssa Naeher nos acréscimos.
A única reclamação de Marta foi reservada ao árbitro, que, segundo ela, negou ao Brasil o que deveria ter sido um pênalti, acrescentando: “Já sabíamos que jogar contra os EUA seria difícil porque temos que jogar contra eles e geralmente contra os árbitros também.”
Quando o apito final soou, Marta foi rápida em consolar sua companheira de equipe Angelina na linha do meio do campo antes de compartilhar abraços com os membros da comissão técnica.
Uma jornada olímpica que começou quando ela tinha apenas 18 anos em Atenas, terminou com outra final, outra medalha. Só que não aquela que ela estava tão desesperada para colocar as mãos.
“Estou chorando aqui de gratidão e felicidade”, disse Marta. “Não estou chorando aqui lamentando que tenhamos conquistado a prata. Veja o quanto tivemos que superar nesta competição para chegar a esta final.
“Então essa prata, como eu disse, é um lembrete do orgulho que temos que sentir quando vestimos a camisa da seleção brasileira e representamos o nosso país, jogando com alegria, vontade, determinação e perseverança, como fizemos em todos os jogos. Prata aqui, ouro na vida.”
Havia esperanças de que Marta pudesse reverter sua decisão de se afastar do futebol internacional neste ano e ficar tentada a entrar em campo para mais um torneio quando o Brasil sediar a próxima Copa do Mundo Feminina em 2027.
Então, onde ela estará em três anos?
“No estádio, aplaudindo as meninas”, declarou ela.
Informações da Associated Press contribuíram para esta reportagem.
Fonte: Espn