Menina de 11 anos grava ofensas racistas contra vizinha de 12 anos


Por Gabriela Caseff/Folhapress

Uma menina de 11 anos gravou vídeos com ofensas racistas contra outra criança de 12 anos e seus pais, moradores do mesmo condomínio na zona norte de São Paulo.

Ao tomar conhecimento do conteúdo, publicado em um grupo de crianças, a mãe da vítima fez denúncia na Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância) no dia 19 de dezembro.

“Você não acha que se eu arranhasse a (…), ela ficava branca? (sic) Ela podia se arranhar, que daí a pele dela ficava mais clara e ela ficava mais bonita”, diz a menina a outra garota, que não aparece no vídeo obtido pela reportagem.

As gravações totalizam mais de 13 minutos. Em outro trecho, ela faz ofensas ao peso e à aparência da vizinha, além de insultar a mãe da vítima.

Além das ofensas consideradas racistas e gordofóbicas pela família que registrou o boletim de ocorrência, a menina de 11 anos também discursa contra pessoas pretas.

“Ser racista é bom. Pretos são ridículos e deviam todos morrer. O sangue deles deve ser mais escuro que o nosso, gente escura dá nojo, eu tenho nojo de gente escura. Se os pretos fossem inteligentes, eles não seriam escravos”, afirma ela.

Segundo advogado da família, a menina de 12 anos teria passado a ter comportamentos diferentes do habitual após tomar conhecimento das ofensas.

“Ela não quis mais descer para brincar, pois vizinhos a abordavam falando que sentiam muito, outras crianças riam dela, e ela ficava desconcertada”, afirma Diego Moreiras. “Os pais acharam por bem deixá-la na casa dos avós.”

Segundo Moreiras, uma vizinha teria visto o vídeo circulando em grupos do WhatsApp e alertado a mãe da vítima. Ao buscar diálogo com o pai da menina, que é síndico do condomínio, a mãe teria sido maltratada.

“Ele se exaltou, colocou o dedo na cara dela, disse que era apenas uma trolagem e, após o pai bater à sua porta, pediu desculpas de forma velada”, afirma o advogado. “E ainda falou que haveria punições se alguém compartilhasse o vídeo.”

No grupo de adultos do condomínio, o pai teria se retratado, segundo print de conversas enviadas por Moreiras.

“Venho a público me retratar de um ato praticado por minha filha através de um vídeo em que ela disse coisas ofensivas e preconceituosas. Nós não concordamos com o que foi dito.

Estamos arrasados como pais e acho que falhamos em algum momento. Sou filho de uma baiana e meus avós eram afrodescendentes. Fomos criados todos à imagem e semelhança de Deus. Peço que nos perdoem no amor de Cristo”, diz a mensagem.

Em contato com o advogado da família, o pai da vítima indicou outras situações em que a menina de 11 anos teria sido preconceituosa e usado o cargo do pai para obter influência sobre outras crianças no prédio.

A família deve denunciar os pais como responsáveis pelo comportamento da criança e pedir indenização por danos morais, além de adoção de medidas socioeducativas junto ao Conselho Tutelar e ao Ministério Público.

“As duas crianças são vítimas: uma pela negligência e despreparo dos pais e outra pela negligência dos pais da colega”, avalia Moreiras. “Nossa intenção é conscientizar de que essa é uma atitude criminosa e que esses discursos não são mais aceitos na nossa sociedade.”

A família da vítima diz que irá processar criminalmente os pais da menina que gravou os vídeos. O caso, segundo a SSP (Secretaria de Segurança Pública), é investigado como crime de injúria racial. “As partes serão notificadas para a realização de oitivas e diligências prosseguem para o esclarecimento dos fatos”, afirma, em nota, a secretaria.



Fonte: TNH1