Uma de suas primeiras medidas ao assumir seu segundo mandato foi assinar ordens executivas para decretar “estado de emergência” na fronteira com o México — e limitar o direito de adquirir automaticamente a cidadania americana por nascimento, algo que é protegido pela Constituição (razão pela qual os especialistas acreditam que vai ser difícil de reverter).
Natural de Tong, um vilarejo na Ilha de Lewis, no norte da Escócia, a mãe de Trump estava seguindo, aos 18 anos, os passos de três de suas irmãs que já estavam nos EUA: Christina, Mary Joan e Catherine.
As autoridades registraram o nome e o endereço de Catherine em Astoria (Queens) como os dados da pessoa que a receberia em Nova York.
No campo ocupação ou profissão, o documento alfandegário registra MacLeod como “doméstica”.
“Doméstica pode significar várias coisas: uma pessoa que trabalha em casa; alguém que trabalha em uma casa de família, cozinhando e limpando para outras pessoas; ou alguém que trabalha no serviço doméstico de uma casa como empregada doméstica”, explicou Moreno.
Também neste aspecto, MacLeod parecia estar seguindo os passos de sua irmã Mary Joan, que trabalhava com serviços domésticos quando conheceu seu futuro marido, Victor Pauley.
Seja qual for o significado que tenha dado à sua definição de “doméstica”, o fato é que MacLeod a usou novamente em setembro de 1934, quando entrou no porto de Nova York pela segunda vez, vindo da Escócia.
O documento alfandegário desta segunda viagem, desta vez a bordo do navio Cameronia, revela outros aspectos relevantes dos seus primeiros anos em território americano.
Em primeiro lugar, que ela permaneceu no país continuamente desde sua chegada em maio de 1930 até junho de 1934 — e que fez de Nova York seu local de residência permanente.
Moreno observa que, antes de viajar para a Escócia, MacLeod solicitou uma autorização para entrar novamente nos EUA, o que teria facilitado os trâmites alfandegários durante sua segunda entrada.
Origem humilde
“Ela vinha de uma família muito pobre. Houve uma grande emigração do vilarejo de onde ela veio porque, no fim da Primeira Guerra Mundial, a maioria dos homens do vilarejo foi morta quando um navio que os trazia de volta afundou”, disse à BBC News Mundo Michael D’Antonio, autor do livro Never Enough: Donald Trump and the Pursuit of Success (“Nunca é suficiente: Donald Trump e a busca pelo sucesso”, em tradução livre).
“Foi uma grande tragédia. Muitas mulheres decidiram emigrar quando viram que não teriam com quem casar. Foram para o Canadá e para os Estados Unidos”, acrescentou.
D’Antonio também atribui a emigração a motivos econômicos, uma vez que muitos agricultores da Ilha de Lewis perderam suas terras, e tiveram que se mudar.
“Eles eram muito pobres porque não podiam mais cultivar suas próprias plantações”, ele explicou.
Mas, a julgar pelos documentos de viagem de MacLeod a bordo do Transilvania, Moreno acredita que sua situação financeira não era totalmente precária na época.
“Ela tinha dinheiro suficiente para pagar pela segunda classe, viajando em uma cabine compartilhada com outra mulher, e evitando a terceira classe. Ela obviamente tinha algum dinheiro, não era pobre, mas veio como imigrante”, disse o historiador à BBC News Mundo.
O genealogista Bill Lawson, que rastreou a árvore genealógica de Mary Anne MacLeod até o início do século 19, afirma que seu pai, Malcolm, administrava uma agência dos correios e uma pequena loja em seus últimos anos de vida, e que financeiramente, a família teria uma situação um pouco melhor do que a média do município.
Lawson destaca que ela “pertencia a uma família muito numerosa, com nove irmãos”, e que na ilha “não havia muitas perspectivas para os jovens”.
“O que mais se poderia fazer?”, ele questiona.
“Hoje em dia, você pode pensar em ir para o continente — mas, naquela época, a maioria das pessoas ia para o Canadá. Era muito mais fácil ganhar a vida nos Estados Unidos, e muita gente tinha parentes lá.”
Cotas migratórias
Os descendentes dos imigrantes que chegaram aos Estados Unidos por Nova York durante as últimas décadas do século 19 e as primeiras décadas do século 20 equivalem a quase metade da população do país, segundo o site da Fundação Estátua da Liberdade – Ellis Island.
No entanto, embora os EUA tenham sido historicamente abertos à imigração, quando MacLeod emigrou de sua terra natal, a Escócia, havia algumas restrições à entrada de estrangeiros.
“Naquela época, foram atribuídas cotas para admitir apenas um número limitado de imigrantes de cada país. Entre 1921 e 1955, havia uma cota limitada de imigrantes do Reino Unido. Como escocesa, ela se enquadrava nela”, explica Moreno.
O historiador afirmou que MacLeod também teve que solicitar um visto para obter autorização para imigração.
Nas fichas de controle de passageiros dos navios, chamadas Manifestos, todos os dados de cada passageiro eram registrados, incluindo suas características pessoais (cor dos olhos, cabelo, raça, etc.).
Cada passageiro precisava ter pelo menos US$ 50 — e provar que possuía a quantia.
Esta foi a quantia exata que Macleod levou consigo em cada uma de suas duas viagens.
“Se você tivesse menos de US$ 50, havia dúvidas se conseguiria sobreviver nos EUA enquanto arrumava um emprego, ou se conseguiria se encontrar com um membro da família que pudesse acolhê-lo”, explicou Moreno.
Inteligente e ambiciosa
A mãe de Trump se tornou cidadã americana em 1942.
Em seu livro A Arte da Negociação, Donald Trump se refere a ela como uma “dona de casa muito tradicional que tinha plena consciência do mundo além dela”.
O magnata descreve uma cena em que sua mãe está absorta assistindo à coroação da rainha Elizabeth 2ª pela televisão.
“Estava totalmente fascinada pela pompa e circunstância, por toda a ideia de realeza e glamour”, ele escreveu.
D’Antonio se refere a MacLeod como uma mulher muito espirituosa, inteligente e ambiciosa.
“Isso foi o que Trump me contou sobre ela, que era muito competitiva e tão ambiciosa quanto seu pai. A única coisa é que não acho que ela pudesse expressar isso da mesma forma porque era mulher. Naquela época, era difícil para as mulheres terem uma carreira, e serem tão ambiciosas quanto podem ser hoje”, afirmou.
MacLeod parece ter encontrado na caridade o lugar para deixar sua marca no mundo.
Após sua morte em agosto de 2000, aos 88 anos, o jornal americano The New York Times publicou um obituário descrevendo-a como “filantropa”.
O obituário acrescenta que a família Trump também contribuiu para o Exército da Salvação e para o grupo de escoteiros Boy Scouts of America, entre outras organizações.
“Um pavilhão do Jamaica Hospital Medical Center leva seu nome. Eles também doaram edifícios para a National Kidney Foundation de Nova York/ Nova Jersey”, acrescenta.
Nada mal para uma imigrante que chegou aos EUA, aos 18 anos, com US$ 50 no bolso.
Fonte: TNH1