Policiais e delegados dizem que falta pessoal para concluir as investigações; já direção da Polícia Civil alega que ‘faltam provas’
A maioria dos crimes que acontece em Alagoas não é esclarecida. Só os casos de ampla repercussão, como homicídios rumorosos, chegam à Justiça. A avaliação foi feita por grande parte dos delegados e policiais civis do estado.
As direções da Associação dos Delegados de Polícia (Adepol) e do Sindicato dos Policiais Civis (Sindpol) confirmam a análise dos colegas e estimam que entre 15 mil e 20 mil inquéritos “amontoam” os arquivos das 143 delegacias e dos 26 Centros Integrados de Segurança Pública (Cisp) por falta de gente para trabalhar nos casos e concluir os inquéritos.
A direção da Polícia Civil, por sua vez, não revela números de casos parados, mas garante que os delegados e policiais têm metas de conclusão de inquéritos e as cumprem.
O diretor-geral da Polícia Civil, delegado Paulo Cerqueira, negou, inclusive, que haja inquérito parado por falta de efetivo. “A atividade de Polícia Judiciária jamais será comprometida por qualquer motivo, pois a Polícia Civil é imprescindível na estrutura da Segurança Pública”, afirmou o diretor-geral da PC.
SINDPOL
Sem desrespeitar a hierarquia que o separa da direção-geral da Polícia Civil, o presidente do Sindpol, Ricardo Nazário da Silva, afirmou que “entre 15 mil e 20 mil inquéritos estão parados nas delegacias por falta de gente para trabalhar neles. A prioridade é concluir os inquéritos mais rumorosos, principalmente aqueles de homicídio, e atender as cobranças da Justiça e do Ministério Público”.
O líder dos policiais civis lembrou que o efetivo de 1.600 agentes e escrivães não é suficiente para atender a demanda das delegacias. “A metade do efetivo está em condição de aposentadoria, ou doente e/ou desmotivada por conta da carga excessiva de trabalho”.
Observou que as cidades pequenas, como Santa Luzia do Norte, Tanque D´Arca, entre outras, estão fechadas por falta de policiais e delegados. Por conta disso, tem policiais atendendo entre três a cinco cidades.
“Este tipo de trabalho que provoca fechamento de delegacias é um retrocesso e favorece a impunidade. Não tem gente suficiente para atender a demanda, que só aumenta por conta do empobrecimento da população e da ausência do Estado nas áreas mais vulneráveis dos 102 municípios”, avaliou Nazário em conversa com a Gazeta.
Revelou também que os delegados não estão trabalhando mais nos plantões das delegacias nos finais de semana. E, durante a semana, o expediente é de 8h às 13h. “Isto significa que qualquer pessoa que precisar falar, ser orientada ou ser ouvida no inquérito policial e/ou no Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO), por uma autoridade policial, a partir das 13h, não conseguirá. A partir deste horário não tem mais delegado”. Na verdade, isto faz parte da portaria publicada pela delegacia geral, disse o presidente do Sindpol.
Isto acontece porque os delegados tiveram um aumento de 29%. A partir daí passaram a ter vencimentos maiores ou iguais à remuneração do governador, de R$ 24 mil. Alguns delegados antigos chegariam ao salário de até R$ 38 mil. Com o teto redutor salarial ninguém pode ter vencimento maior que o do governador.
Agora, a categoria tenta ser classificado como carreira de estado e, para pressionar, decidiu suspender o trabalho de plantão nas delegacias, revelou uma fonte da Secretaria de Segurança Pública.
Com o novo horário de trabalho nas delegacias, se houver um flagrante depois das 13 horas, em qualquer município do estado, a Polícia Militar terá de trazer para Maceió o preso, o material apreendido, as testemunhas, vítimas para a Central de Flagrante I, na capital, disse o presidente do Sindpol ao considerar a medida como “absurda” e um retrocesso na política de segurança. “Se hoje a gente tem mais de 15 mil inquéritos parados, agora este número deverá dobrar em curto espaço de tempo”, prevê Ricardo Nazário.
Fonte: gazetaweb.com