Covid-19 e as consequências na economia do Japão

O governo japonês começou a flexibilizar as medidas de isolamento, mas ainda é cedo para fazer prognósticos de recuperação efetiva da economia

A crise econômica provocada pela rápida disseminação do novo coronavírus atingiu também o Japão. Terceira economia mundial, o país asiático teve redução de 11% nas exportações nos primeiros três meses do ano, um dos maiores retrocessos dos últimos quatro anos.

Em meados de junho, o Japão conta com mais de 17 mil casos confirmados de covid-19 e mais de 900 mortes provocadas pela doença respiratória que pode gerar graves complicações.

O número parece pequeno quando comparamos com o país vizinho, a China, onde surgiu a pandemia, que contabiliza mais de 83 mil casos confirmados e mais de 4,6 mil mortes. Porém, é o suficiente para impactar a economia do país.

O Produto Interno Bruto (PIB) japonês teve um recuo de 3,4% ao ano no primeiro trimestre e a expectativa não é das melhores para os resultados obtidos até julho.

Com esses resultados, o Japão é a primeira grande economia mundial a entrar em recessão técnica, condição decretada após dois trimestres consecutivos de recuo no PIB.

Causas da crise

A economia do Japão já estava enfraquecida quando o novo coronavírus se instalou e agravou ainda mais a crise.

Desde o final de 2019, o arquipélago apresenta resultados abaixo do esperado em função da redução do consumo em 1,6% em relação ao período anterior.

Essa retração do consumo se deve ao aumento de impostos anunciado pelo governo para investimentos em saúde, aposentadorias e pensões.

Associado a isso, o Japão teve um inverno mais quente do que o esperado, reduzindo as vendas de produtos têxteis.

No quarto trimestre do ano passado, a economia nipônica retraiu 6,4% em termos anuais. E a pandemia veio para aprofundar ainda mais a crise no país.

O Japão decretou estado de emergência em abril, solicitando que as pessoas evitassem sair às ruas. A medida, assim como em todo o globo, afetou drasticamente o consumo e todos os negócios relacionados ao comércio.

Aliado a isso, a possibilidade de aquecimento da economia, recebendo grande número de turistas, também não se concretizou. Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio deste ano foram adiados para 2021, em função das medidas de restrição adotadas pelos governos mundiais, que inviabilizam as viagens das delegações.

O setor de turismo também é um importante fator que impulsiona a crise, já que viagens e reservas foram canceladas.

Mercado de ações

O mercado financeiro japonês é medido, principalmente, pelo índice Nikkei, que reúne 225 ações negociadas na Bolsa de Tóquio, sendo 40% do setor de tecnologia, incluindo gigantes como Canon, Sony, Toyota, Honda e Mitsubishi e Nissan.

O índice sofreu fortes variações durante a crise. No final de maio, apesar do levantamento do estado de emergência no Japão, fechou em queda de 0,18% aos 21.877 pontos.

Já nos primeiros dias de junho, com o aparente controle do surto no Japão, a Bolsa de Tóquio apresentou ligeira alta. No dia 4, o pregão fechou com ganhos de 0,36% aos 22.695, 74 pontos.

Recuperação

Em meio a pior fase da pandemia, o governo japonês injetou 108 trilhões de ienes, o que equivale a pouco mais de R$ 5 trilhões. Assim como os demais governos do mundo, a medida visa a preservação da economia nacional.

No final de maio, o governo anunciou o levantamento do estado de emergência em todo o arquipélago. Os critérios para essa medida foram extremamente rígidos e determinados pela redução do número de novos casos.

Dos mais de 17 mil casos confirmados de covid-19, apenas 1,4 mil estão ativos neste começo de junho. Assim, foram autorizadas a volta das escolas e da maioria das atividades econômicas que estavam paralisadas como cinemas, shoppings, teatros e academias.

Pequenas aglomerações de, no máximo, 100 pessoas também estão permitidas, desde que sigam as normas de segurança sanitária.

O turismo também começou a ser reaberto, assim como os principais pontos de visitação, que contam com rigorosas medidas de controle sanitário para evitar novos casos.

A medida pode movimentar a procura pelo melhor câmbio para o iene e reaquecer a combalida economia nipônica.

No entanto, o Japão está longe de ter espantado o fantasma do novo coronavírus de vez. Uma semana após a retirada do estado de emergência, quando eram apenas cinco novos casos/dia, o país registrou 34 novos casos, fazendo o governo rever as medidas.

Embora o número de novos registros diários seja relativamente pequeno se comparado a outros países que também estão relaxando as medidas de isolamento, o governo considera um aumento importante.

Sendo assim, a solicitação é para que as pessoas voltem a restringir saídas e redobrar as medidas de higiene e o uso de máscaras.