Como mostrado na última postagem, causou polêmica a fala do bispo diocesano D. Valério Breda sugerindo aos fiéis o voto no candidato Jair Bolsonaro; o fato aconteceu na cidade de São Miguel dos Campos.
A ação causou mal-estar entre a comunidade católica que se posicionou contra o bispo, inclusive reportado em portais de notícias do estado.
Pois bem, como era de se esperar, seguidores mostraram todo sua indignação contra a atuação teatral do bispo diocesano e emitiu nota de repúdio.
É prática do atual religioso, se posicionar politicamente – não que seja pecado mortal – no entanto, por se tratar de um líder religioso, tais ações devem ser exaustivamente pensadas, pois dessa vez sugerir um voto para um cidadão que tem o ódio e a intolerância em seu pesado discurso, é um pouco demais.
Segue nota de repúdio
*Nota de repúdio à fala do Bispo Dom Valério Breda*
“Precisamos de profetas”
“A facada quando não mata, elege”.
Assim, o então responsável por guiar o Povo de Deus da Diocese de Penedo, Dom Valério Breda, vai concluindo uma Celebração Eucarística em São Miguel dos Campos/AL¹. Após o partir do Pão, com Cristo comungado, o Bispo faz referências ao candidato mais polêmico das eleições à presidência do Brasil de 2018.
O candidato é polêmico, especialmente, por incitar discursos de ódio e violência. Como também se torna polêmica a postura de Dom Valério, que é uma grande contradição e grave atentado aos ensinamentos do Cristo, que amor e paz pregava. Vale lembrar e salientar aqui o tema da Campanha da Fraternidade deste ano: “fraternidade e superação da violência”, organizada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Será que poderíamos questionar a fala e posicionamento do Pastor da Diocese? Nós “meras ovelhas?!”. Não só podemos, como apontamos a pertinência dessa ação. Como Leigas e Leigos, batizados, temos o dever e o aconselhamento da Igreja para nos posicionarmos nas questões políticas, nas temáticas sociais em que estamos diretamente envolvidos.
Posicionar-se politicamente não é necessariamente a questão, mas qual a posição que Dom Valério toma ao mostrar apoio a tal candidato? Está mesmo ele a favor do povo e da nação brasileira? O que propõem o tal candidato? São propostas que trazem dignidade, que podem aumentar o bem-estar de todas e todos nós?
Somos nós, povo brasileiro e povo penedense quem carregamos as dores do histórico desse país e de nossa terra nas costas. Nosso Bispo fala de nação, mas não se criou nesse chão. Seu padrão de vida não muda com as mudanças de governo como muda o nosso. Ele não sabe o que o povo sofre, porque não vivenciou nossas dores, tampouco parece estar próximo do “seu povo” pra ver de perto como este padece. Sua baixa popularidade nos sugere isso.
Ele tem todos os privilégios. Quem será que passa sua roupa e que faz sua comida? Provavelmente uma mulher pobre, que, ao ver do tal candidato, deve ganhar menos que os homens no emprego. São essas mesmas mulheres a maioria das ovelhas da Igreja. Somos uma Igreja sustentada por mulheres e seu Pastor não consegue olhar para suas realidades e perspectivas. Não merecemos ganhar o sustento de nossas vidas e famílias em pé de igualdade?
De onde vem o dinheiro que sustenta a casa, alimentação e demais privilégios de nosso Bispo? Esse dinheiro vem do povo nordestino que labuta e entrega a Deus clamando e acreditando em sua misericórdia. Nordestinos que também não são bem quistos pelo candidato à presidência.
Penedo, terra de pescadoras e pescadores, de quilombolas, agricultoras e agricultores, de minorias. Minorias? Sim, repetidamente desvalorizadas, pesadas “em arroba” e sem direito a “nem mais 1cm de terra”. Diversidade de crença? Sexualidade? Tudo reduzido ao discurso baseado em concepções históricas ultrapassadas, desconectadas das nossas formas de abordar temáticas, da realidade que vitimiza milhares de pessoas, inclusive, valendo-se de crenças religiosas ditas “cristãs”, tão distantes daquilo que entendemos e vivemos em nossas comunidades, com experiências concretas e testemunhais de tanto Amor.
Afinal, qual propósito de Nação que ele sugere ao nosso país ao fazer menção ao candidato que defende o livre porte de armas? Que não apresenta propostas para o desenvolvimento do povo brasileiro? Um candidato que não é novo na política, e em diversos mandatos parlamentares não apresentou propostas que melhorassem a vida da população brasileira.
Esses questionamentos nos servem para que não esqueçamos o chão em que pisamos e de que povo estamos falando, para pensar qual projeto de Nação nos cabe. Isso no debate político da questão.
No tocante à Diocese, para além da postura apontada, recordamos – trazemos novamente ao coração – a realidade local vivida. Amada e sofrida, seio da nossa experiência de fé. O que nos dizem tantas outras falas do nosso Bispo? O que os irmãos e irmãs pensam das reflexões nas homilias?
Honestamente, o que vemos na realidade local são decisões pastorais e políticas que comprometem nossa caminhada de fé, nossa realidade eclesial e social. Portanto, observamos que sua fala é sintomática! Retrato do péssimo espaço formativo, dos escândalos recorrentes, da desvalorização, qualitativamente e quantitativamente, das pastorais sociais e de juventudes.
É devido a conjuntura, diante desse ápice, reconhecidamente apavorados e apavoradas, que precisamos refletir também nós se estamos nos esforçando em ser “Sal da Terra e Luz do Mundo”. Cada pastoral, cada organismo, cada grupo, cada cristão e cristã.
Assumir posicionamentos exige uma reflexão profunda, comprometida com a vida e dignidade, especialmente vindo de uma liderança de nossa Igreja. Ter o microfone e o poder em mãos influência muitas opiniões. Por isso, repudiamos tal postura, entre tantas outras já tomadas, pois retrata um descompromisso social, e mesmo espiritual, para com o povo, mesma postura, inclusive assumida pelos políticos.
“”O Senhor esteja convosco. Ele está no meio de nós”
Por fim, recordamos a importância desta nota de repúdio, somada a tantas outras, feita por nós leigos e leigas, povo de Deus. Na certeza de que cabe a cada um de nós confiar que Ele, “estando em nosso meio”, nos encoraja na dinâmica do anúncio e denúncia. E é neste sentido que mais do que palestrantes e debatedores, conclamamos todas e todos a serem “testemunhas da verdade, da vida, de uma vida sóbria e partilhada, profética e solidária. Precisamos de profetas”.
Nota de repúdio retirada da página O Povo de Deus – Diocese de Penedo.