Foto: Ariosto Mesquita

Busca Vida, Belo e Pintado. Quem vê o carinho dos animais com o dono, Antônio Ricardo Sechis, 58 anos, não imagina que eles estavam na fila para o abate. Mas eram tão mansinhos, tão carinhosos, foi difícil desapegar. além disso mais quando a filha do fazendeiro, a arquiteta Julia, 28 anos, pediu para o pai um deles como presente de aniversário.

Da raça Angus Australiano, Busca Vida foi o primeiro boi a ser adotado pela família Sechis. “Ele foi domesticado no segundo semestre do ano passado, entre setembro e outubro, e teve uma evolução muito grande no aspecto de docilidade. Eu comecei a perceber nesse animal, que sempre que entro no curral, ele procurava a minha presença”, relembra Antônio.

O produtor rural conta que o animal já estava no último estágio antes do abate, com peso, idade e formação de carcaça ideais, quando foi resgatado. “Eu estava no curral com minha filha e ela falou ‘nossa pai, você vai abater esse animal? Ah, não abate não. Ele está muito manso’. Era aniversário dela e ela pediu de presente pra mim”.

“Perguntei ‘você vai cuidar dele melhor do que ele está aqui, em que damos uma morte digna?’. Ela abriu a porteira e ele veio atrás, começou a frequentar um novo ambiente. É interessante porque ele tem os sentidos muito aguçados. Comecei a estudar a parte auditiva, olfativa e até a parte visual dele e ele me identifica se eu estou passando. Se ele estiver acesso, ele vai até mim”, continua Antônio.

O carinho de Busca Vida encanta o produtor rural. “O boi não enxerga colorido, só o preto que ele distingue. Mas veja assim, ele tem uma percepção, pela leitura e pelo olhar, ele sabe exatamente definir a figura de uma pessoa de outra, mesmo de longe. Comecei a observar que a sensibilidade auditiva dele igualmente é muito grande. Eu gosto de chama-lo de ‘Mané’ e se eu falo o nome dele, mesmo em tom baixo, a uma distância relativamente longa, ele vem”.

Manejo humanizado

E foi por causa do carinho com Busca Vida que Antônio aprimorou sua técnica de manejo. Percebendo que o animal tem uma audição apurada, ele aproveitou para melhorar o ambiente durante o período de engorda dos bois e igualmente para o abate. Segundo ele, é relevante reduzir o stress para que seja menor o nível de cortisona na carne.

“Eu estou evoluindo isso para nosso sistema de manejo, trabalhando a parte auditiva, que é bastante sensível. Colocamos um som de berrante na hora de tratar e os animais já ficam todos aguçados sabendo que está chegando comida no cocho. Usamos o mesmo som no frigorífico e eles vão com esse som, acondicionados achando que tem uma comida, ideal tirar o stress dele nesse momento”, explica.

Família cresceu

Além de Busca Visa, Sechis igualmente adotou mais dois animais na Fazenda Recanto Vó Cidinha, na cidade paulista de Nhandeara: o Belo, da raça Wagyu, e o Pintado, um Nelore malhado. Segundo o proprietário, Belo era muito carente e, quando parava de receber carinho, dava ‘cabeçadas’ para mostrar que queria mais. Depois de um tempo, parou de ‘incomodar’ o dono, mas continua muito dócil.

“Ele estava com 860 quilos, já no ultimo estágio da engorda, mas era muito dócil. Parte porque garantimos a interatividade com os animais, colocamos bola para brincar. Eu estimulo a curiosidade deles. Alguns acabam interagindo mais e a gente acaba tendo um carinho maior. Assim ele acabou ficando”, destaca Antônio.

Pintado ‘pegou carona’ e igualmente virou animal de estimação. O dono até brinca que os três disputam por sua atenção. “Ele vai ficar lá nesse sistema, até tem briga agora que são três e eu só tenho duas mãos, uma briga de carinho. Não coloquei o nome dele, mas o chamo de Pintado. Aprendi com meu pai que animal bravo tem que cuidar bem dele”, revela.


Fonte: Topmidianews.com.br