A água é um recurso essencial para a vida, mas seu desperdício ainda é um desafio global. No Dia Mundial da Água, celebrado neste sábado (22), o Ministério Público do Estado de Alagoas (MPAL) chama a atenção para o papel fundamental de cada cidadão na preservação desse bem tão valioso. Pequenas mudanças na rotina podem gerar um grande impacto, garantindo água para as futuras gerações.
O procurador-geral de Justiça, Lean Araújo, reforçou que “a importância do uso consciente da água e o incentivo a adoção de práticas sustentáveis são essenciais. Se cada um fizer a sua parte, podemos reduzir o desperdício e garantir um futuro com mais segurança hídrica”.

Dona Nilma reserva água da chuva para lavar o quintal. Foto Acervo pessoal
Dona Nilma Marinho, moradora de Maceió, sempre teve o cuidado de economizar água dentro de casa, hábito que aprendeu com o marido e passou para os filhos. “Aqui não desperdiçamos nada. Fechamos a torneira ao escovar os dentes ou ao ensaboar a louça e aproveitamos a água da chuva para regar as plantas e lavar o quintal”, conta ela.
Seus filhos cresceram com essa consciência ambiental e levaram os ensinamentos para suas próprias vidas. A turismóloga e professora Marcela Marinho destaca como a educação dentro de casa moldou sua visão sobre o consumo consciente. “Meus pais sempre tiveram uma preocupação muito forte com a gestão da água, dos resíduos e da energia. Isso não era só pelo impacto financeiro, mas por uma questão socioambiental. Aprendemos desde cedo que tudo o que fazemos reverbera no bairro, na cidade e no meio ambiente”, afirma.
Marcela recorda um episódio da infância que reforçou sua percepção sobre o uso da água. “Na escola, a professora pediu que levássemos uma conta de água para uma atividade. Quando ela perguntou quem tinha o menor consumo, o meu foi o menor da turma. Fiquei surpresa na época, mas hoje entendo que isso foi resultado do cuidado que meus pais sempre tiveram”, relembra.
Atualmente, como professora, ela leva essa consciência para seus alunos no Instituto Federal de Alagoas (IFAL), campus Maragogi. “Trabalho questões ligadas ao meio ambiente e sustentabilidade dentro do turismo. Sempre reforço que a água não pode ser vista apenas como um recurso econômico, mas como um elemento essencial para o equilíbrio ambiental e social”, explica.
Educação ambiental desde a infância

Alunos da Escola Cecília Meireles aprendem na prática sobre a preservação da água. Foto: Ascom MPAL
A conscientização sobre o consumo responsável da água deve começar desde cedo. Em Maceió, a Escola Cecília Meireles desenvolveu um projeto especial para ensinar crianças sobre a importância da preservação da água.
“A gente trabalha essa questão da forma mais lúdica possível, usando histórias, teatros e fantoches. O objetivo é mostrar para as crianças que atitudes simples, como fechar a torneira enquanto escovam os dentes ou evitar jogar resíduos sólidos na rua, fazem toda a diferença”, explica Magna Melo, coordenadora da escola.
As atividades incluem experimentos e brincadeiras que mostram na prática a importância de economizar água. Segundo Magna, essas ações ajudam a construir uma consciência ambiental desde a infância. “Se eles aprendem isso agora, vão levar esses hábitos para a vida toda. Nossa missão é formar cidadãos mais responsáveis com o meio ambiente”, afirma.

A aluna Isabela Fragoso dá um show de consciência quando o assunto é a preservação da água. Foto: Ascom MPAL
E quem dá um show de consciência ambiental é a aluna Isabela Fragoso, de apenas 6 anos da idade. “Eu sempre fecho as torneiras, não deixo o chuveiro ligado e também não jogo lixo no rio nem na praia, porque senão polui a água”, explica a estudante.
A preocupação dela vai além do consumo humano. “Os animais podem acabar comendo esse lixo e isso faz mal para eles”. Tudo o que aprendeu na escola, ela repassa para os colegas e para a família. “Eu ensino meus amiguinhos e também minha família a cuidar da água e da natureza”, completa a Isabela.
Cada atitude conta

Clara Reis Bortolon e Sophia Alves Matos Sampaio, alunas premiadas do IFAL – campus Marechal Deodoro. Foto: Acássia Deliê – Ascom IFAL Marechal
A preservação da água não depende apenas de grandes ações governamentais, mas também de escolhas individuais no dia a dia. Pequenos gestos dentro de casa e projetos educativos nas escolas fazem toda a diferença para garantir esse recurso essencial para as próximas gerações.
Foi com esse olhar que as alunas Clara Reis Bortolon e Sophia Alves Matos Sampaio, do IFAL – Campus Marechal Deodoro, desenvolveram um protótipo funcional de uma Estação de Tratamento de Água (ETA). O projeto surgiu durante as aulas de Saneamento Ambiental do Curso Técnico em Meio Ambiente do IFAL MARECHAL, após aulas sobre as doenças transmitidas pela água contaminada e o funcionamento das ETAs. Para aprofundar o conhecimento, os alunos participaram de uma visita técnica a uma estação real, onde puderam ver de perto todas as etapas do processo, desde a captação até a reservação.
A partir desse aprendizado, as estudantes decidiram criar um modelo em escala reduzida. Com orientação da professora Ana Paula Fiori, elas estudaram os melhores materiais e métodos de construção, testaram cada etapa do tratamento da água e, com o projeto finalizado, apresentaram a MINI ETA na VI Feira de Ciências Ambientais de Marechal Deodoro. O trabalho se destacou e garantiu o primeiro lugar na categoria Projeto de Ciências, rendendo às alunas uma bolsa de Iniciação Científica Júnior do CNPq.

Protótipo da Estação de Tratamento de Água realizado pelas alunas do IFAL – campus Marechal Deodoro. Foto: Acássia Deliê – Ascom IFAL Marechal
Agora, elas se preparam para representar Alagoas na Mostra Nacional de Feiras de Ciências, em Brasília. “A Feira de Ciências é uma iniciativa de popularização da ciência, que busca disseminar o conhecimento e incentivar o protagonismo dos alunos nas questões científicas”, destaca a professora Ana Paula.
A estudante Clara Bortolon contou que participar da feira foi uma experiência incrível. “Quando iniciamos o projeto foi uma mistura de ansiedade e entusiasmo pra ver o resultado do trabalho e como apresentaríamos no dia. E tudo foi maravilhoso, não poderia ter sido melhor. Quando anunciaram que ganhamos o primeiro lugar, foi uma surpresa e muita alegria com certeza”.
A Feira de Ciências Ambientais de Marechal Deodoro é realizada no Instituto Federal de Alagoas – Campus Marechal Deodoro, com recursos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Informação (MCTI), por meio do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Também recebe apoio da Pró-Reitoria de Extensão (Proex). O evento é coordenado pela professora Ana Paula Fiori (Ifal Marechal), com apoio de docentes do Ifal e das escolas estaduais deodorenses.
Sede de Aprender: um projeto do MP de Alagoas que ganhou o Brasil
Promotor de Justiça Lucas Sachsida em ação do Sede de Aprender. Foto: Ascom/MPAL
Garantir água potável e saneamento básico nas escolas é fundamental para a qualidade da educação e o bem-estar dos estudantes. Com esse objetivo, o Ministério Público do Estado de Alagoas (MPAL) criou o projeto “Sede de Aprender Brasil – Água Potável nas Escolas”, que agora evoluiu para o Grupo de Trabalho (GT) Saneamento nas Escolas – Projeto Sede de Aprender. A iniciativa busca desenvolver estratégias e soluções tecnológicas para ampliar o acesso à água e melhorar a infraestrutura sanitária nas escolas do país, em parceria com o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), a Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon) e o Instituto Rui Barbosa (IRB).
Projeto Sede de Aprender Brasil é discutido no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Foto: Ascom CNMP
Os avanços conquistados foram determinantes para a expansão do projeto em nível nacional. Em Alagoas, fiscalizações e recomendações do órgão ajudaram a transformar a realidade de diversas escolas, garantindo acesso à água potável para milhares de estudantes. Enquanto o Brasil registrou retrocessos no fornecimento de água entre 2021 e 2023, o estado melhorou seus indicadores em 70%, demonstrando o impacto positivo da iniciativa.
O sucesso do projeto fez com que ele se tornasse uma referência para outras instituições e influenciasse a criação de um projeto de lei federal que prevê a obrigatoriedade do fornecimento de água potável nas escolas. A mobilização nacional reforça o compromisso com a dignidade do ambiente escolar e a necessidade de políticas públicas que garantam condições básicas para o aprendizado.