O Brasil é um país conhecido por sua potência econômica, mas ainda assim, sendo um país em desenvolvimento, enfrenta diversas questões relacionadas à sua economia e assistência à população. Graças a uma série de progressos, os brasileiros têm vivido mais, porém, o país continua com grandes diferenças econômicas entre ricos e pobres, e a população não desfruta de melhores condições nas mesmas proporções, o que é um problema para aqueles que atingem a terceira idade.
Segundo o Censo de 2010, o Brasil tem cerca de 190 milhões de habitantes, estando mais de 20 milhões acima dos 60 anos – e até 2025 os idosos ultrapassarão os 32 milhões. Uma das principais preocupações é que nesta idade as pessoas têm mais tendências a doenças crônicas. Estudos recentes mostraram que entre os brasileiros acima de 60 anos, 77,4% tinham algum tipo de doença, e essa proporção aumentou para 81,3% naqueles com mais de 75 anos. Uma das doenças mais comuns entre os idosos, infelizmente, é o Alzheimer.
O Alzheimer é um bom exemplo de questão tanto no setor de saúde quanto no econômico e no social. Instituições como casas de repouso especializadas não são muito comuns no Brasil, e questões culturais como fortes laços familiares fazem com que os brasileiros não aceitem tão bem a ideia como em outros países da Europa e da América do Norte. Entretanto, sendo um país observador de ideias estrangeiras, se vir que outros países desenvolvidos obtiveram sucesso em alguma iniciativa, pode ser que no futuro o Brasil esteja aberto a novas soluções em relação aos cuidados com a população idosa.
Na Europa já foram dados alguns passos à frente, e uma ideia interessante pode apresentar uma possível alternativa ao tratamento do Alzheimer: vilas onde pessoas diagnosticadas com a doença poderão viver da forma mais normal possível. Na França, uma vila está sendo construída e o método pode ser revolucionário caso apresente resultados positivos, já que diferentemente dos tratamentos tradicionais, não contará com o uso de remédios fortes. No Brasil, iniciativas como essa ainda não apareceram, mas projetos de cidades inteligentes sociais, que estão começando a surgir no país e cujo conceito central é aliar tecnologia, sustentabilidade e acessibilidade, podem ser uma referência a futuras ideias que englobem também o cuidado com a terceira idade, levando em conta suas necessidades e seu bem-estar.
A França não é o primeiro país a usar essa abordagem. Na verdade, a ideia foi inspirada em uma vila similar que existe na Holanda, chamada Hogeweyk, em que pacientes com demência ou Alzheimer administram suas tarefas de casa com a ajuda de cuidadores, que, diferentemente de como ocorre em um tratamento tradicional, se vestem com roupas normais e que, junto com os médicos e as enfermeiras, fazem de tudo para que a experiência dos residentes seja a mais real possível.
Os moradores de Hogeweyk têm acesso a um supermercado local, a um restaurante e até mesmo a um teatro. Eles possuem quartos individuais, mas compartilham cozinha e sala de estar, além do máximo de autonomia. A vila possui jardins, ruas e um parque com toda a segurança. Visto que as finanças podem ser um desafio para os portadores de Alzheimer ou demência, faz parte do plano da residência já incluir os gastos com essas despesas para as famílias dos pacientes, de modo que na vila não circula dinheiro.
Seria essa uma realidade possível no Brasil? A vila construída na França contará com um centro de pesquisa, um diferencial em relação à vila holandesa, e nos próximos anos os resultados poderão ser estudados. Por hora, no Brasil, enfrenta-se uma questão também relacionada ao número de profissionais gabaritados para atuar na área, como baixo número de geriatras e falta de dados sobre o número de cuidadores. Porém, programas como Saúde da Família podem ser a chave para gerar soluções.
Sendo um dos mais importantes programas em saúde no país, ele incorpora visitas em casa e primeiros cuidados àqueles com doenças crônicas, providenciando serviços em 95% dos municípios e cobrindo 55% da população.