Facções de pistoleiros levam terror à população de Piaçabuçu e autoridades concentram esforços para prender chefes do crime.
Não bastasse a luta inglória para retirar Alagoas do topo do ranking de mortes violentas do Brasil, o governador Teotonio Vilela Filho (PSDB) deve enfrentar uma guerra contra a pistolagem, há 105 dias do final de seu governo. A morte do vereador de Piaçabuçu, Antonio Cezar Carmo (PSDB), há uma semana, descortinou uma batalha sangrenta entre duas facções criminosas que espalham terror na região desde o desaparecimento da jovem Roberta Dias, em 2012.
Com envolvimento de políticos e policiais, a prática do crime de mando no Litoral Sul de Alagoas surpreendeu autoridades que combatem a violência e vai exigir um comprometimento ainda maior do governador tucano, que se reúne hoje com o secretário de Estado da Defesa Social, Diógenes Tenório, para tratar especificamente de decisões necessárias e estratégias para estancar a sangria que já tem resultado na fuga de famílias de Piaçabuçu para outros municípios do Estado.
Nos primeiros depoimentos de familiares das vítimas, foram omitidas informações cruciais sobre o caráter político das vertentes do crime que atuam na região de Piaçabuçu. Mas, nos últimos dias, autoridades da segurança pública foram procuradas em Maceió com pedidos de socorro de moradores da região. Apesar de ninguém aceitar depor oficialmente, as autoridades preparam uma grande ação para conter o descontrole da violência no Litoral Sul.
“Este caso é mais do que você está pensando. Ele envolve dois lados que não se reputam muito tranquilos. Esse pessoal vem inquietando tudo, lá. Houve uma espécie de omissão de informações para a Defesa Social. A viúva do vereador não deu a descrição desses crimes de conotação política, lá. Ela nos dava notícia apenas de atos de violência comuns que estão aí no Estado todo, roubos de celulares, invasões de domicílios, etc. Não tinha essa conotação política. Depois, se deflagra uma situação dessa de profundo descontrole”, disse o secretário Diógenes Tenório ao blog.
A situação é tão preocupante que as próprias autoridades têm aconselhado jornalistas a não abordarem o tema com riqueza dos detalhes já conhecidos pelos investigadores. Mas garantem que medidas serão tomadas. Entre elas está a reabertura de inquéritos de homicídios arquivados sem indicação de autoria dos crimes.
“O número de homicídios naquela região deixa o secretário com uma intenção de voltar para ali uma operação séria. Não é uma coisa comum. Aquilo ali é uma situação atípica. Apesar da violência pelo Estado todo, aquela ali é uma situação atípica. Vamos tomar medidas”, disse o secretário da Defesa Social.
“Quem fala, morre!”
A lei do silêncio impera na região onde o vereador Antonio Cezar Carmo foi assassinado há uma semana. E autoridades se veem diante de um dos cenários mais críticos da história do combate ao crime organizado em Alagoas.
Até mesmo o procurador-geral de Justiça, Sérgio Jucá, tem procurado falar o mínimo sobre o rumo das investigações. Ao blog, apenas confirmou que o Ministério Público Estadual, por meio do Grupo Estadual de Combate às Organizações Criminosas (GECOC), tem dado todo o suporte necessário para a Secretaria de Defesa Social atuar na apuração não apenas do crime contra o vereador, mas de uma sucessão de assassinatos que podem ter relação com os dois grupos de criminosos que se enfrentam no Litoral Sul de Alagoas.
“Os indícios levam a crer que a morte do vereador foi crime de mando, de pistolagem. A família dele não fala. Ninguém quer falar. Nos últimos anos, não se tinha notícia de crime de mando de pistolagem. Houve um ou outro caso. Mas isso que está acontecendo em Piaçabuçu é uma guerra. E os interesses políticos são muitos. Confesso a minha angústia com a volta do crime de mando e de pistolagem e com os possíveis desdobramentos desses homicídios”, afirmou Sérgio Jucá.
No meio desta guerra, estão famílias de gente simples, humildes e até trabalhadoras. Mas seriam pessoas com “coragem extraordinária”, confessou ao blog uma outra autoridade ligada às investigações. A perspectiva é de que morra mais gente dos dois lados da batalha.
“É muito grave. Ninguém ousa falar em Piaçabuçu. Quem falou não quis prestar depoimentos. Quem fala, morre. Estamos vendo os inquéritos e desarquivando tudo. Esse tema é explosivo e perigoso até para jornalista. Pode entrar dez governos. Se quem entrar não tiver pulso forte, não resolve”, disse a autoridade, que preferiu não ter seu nome relacionado a estas declarações.
O vereador tucano Antonio Cezar era esposo da vice-prefeita de Piaçabuçu, Maria Lúcia Marinho da Silva Carmo (PSDB). Ele fazia campanha para a candidata a deputada estadual Jó Pereira (DEM), irmã do deputado Joãozinho Pereira (PSDB). O prefeito Dalmo Santana Júnior (PSB) havia procurado o governador Teotonio Vilela Filho há um mês cobrando providências contra a guerra instalada em seu município. Em maio de 2012, Dalmo foi vítima de um suposto atentado a tiros.
Leonan Pinheiro Rodrigues é o delegado que entrou no caso da morte do vereador em caráter especial. E também investiga a sucessão de crimes, com suporte do Gecoc e do próprio secretário de Defesa Social, o juiz de Direito aposentado, Diógenes Tenório.
O esforço é para, além de impedir novas vítimas, conseguir provas que coloquem na cadeia os chefes das facções criminosas que comandam a pistolagem no Litoral Sul. Os cidadãos podem contribuir anonimamente, por meio do Disque Denúncia 181.
Fonte: CadaMinuto