“A gente precisa trazer cinema para as pequenas e grandes cidades”, diz Alice Braga

Em entrevista exclusiva, atriz fala de sua forte ligação com Penedo, revela felicidade em voltar ao município e fala de Entre Idas e Vindas, seu mais recente filme, diferente de tudo que já fez

Texto de Deriky Pereira

unnamedA relação de Alice Braga com Penedo vem desde cedo. Começa a partir de seu avô, nascido na cidade e, a partir daí, sua infância e relação com primos e tios sempre faziam com que ela estivesse pela região. Os anos se passaram e Alice se tornou uma grande atriz, famosa por participar de diversos filmes e seguir carreira no exterior – recentemente, tornou-se a primeira brasileira a protagonizar uma série americana, Queen Of The South (2016).

Atualmente, ela está em férias, mas mesmo assim não pensou duas vezes antes de aceitar o convite para participar do Circuito Penedo de Cinema. Alice, que esteve na primeira edição do evento, até então Festival de Cinema Universitário de Alagoas, em 2011, volta à Penedo cinco anos depois e comemora o crescimento visível. “Lembro da primeira vez aqui, a gente estava conhecendo o Festival, vendo o interesse das pessoas ainda muito pequeno e, agora, elas descobriram o evento. É muito especial estar de volta”, comentou.

Mesmo de férias, Alice aceitou conceder a entrevista, no entanto, naquele momento fez apenas duas ressalvas: não falar de trabalho ou da série. “Vamos falar de Penedo, divulgar o evento, o cinema, pode ser?”, indagou. Claro que sim, respondi. E a partir de agora, Alice Braga comenta sobre sua relação com Penedo, com seus fãs, fala ainda sobre traição – diz que traiu e foi traída – e, também, do filme Entre Idas e Vindas (2014), seu mais recente trabalho, onde ela interpreta Sandra, personagem bastante diferente do que vem fazendo na carreira.

Ascom Circuito: Alice, vamos começar falando da sua volta a Penedo. Você esteve aqui no primeiro Festival, em 2011, e agora de volta ao evento como Circuito Penedo de Cinema. O que você está achando desse novo formato?

Alice Braga: Eu to muito feliz de estar aqui. Me lembro da primeira vez, em que a gente estava conhecendo o Festival, dava pra ver o interesse das pessoas  –  muito pequeno ainda – e agora elas descobriram o evento, pra mim é muito especial estar de volta cinco anos depois e ver a participação dos estudantes, do público e a interação das pessoas. Eu vejo todo mundo correndo, de um lado para o outro, isso é tão legal e valioso também, porque o Festival é pra isso. O desejo da gente é poder informar e dividir para poder inspirar e, assim, fazer com que as pessoas continuem seguindo o sonho delas que é fazer cinema, estudar entretenimento. Então, estou muito feliz em estar de volta e ver o crescimento do Festival, cada vez maior e com sua identidade própria.

Ascom Circuito: Você tem uma conexão especial com Penedo pelo fato de seu avô ter nascido aqui. Então, qual a sensação de voltar à cidade?

Alice Braga: Eu fico muito honrada. Penedo sempre foi uma cidade muito presente na minha vida e na minha infância, com tios e primos, enfim. Adoro estar aqui em Penedo, que é uma cidade da qual eu tenho um afeto muito grande. A minha vida se deve muito ao meu avô, sim, que nasceu aqui e a gente sempre fez questão de manter conexão com a família, com Alagoas e com todo mundo que estava aqui próximo. É muito especial estar aqui.

Ascom Circuito: O Circuito está trazendo diversos filmes e exibindo-os na Praça e tudo aberto ao público e alguns atores e diretores estão participando de bate-papo com os presentes. Como você, que também participou dessa roda de conversa, avalia esse espaço aberto pelo evento?

Alice Braga: Trazer um pouco da experiência que eu tenho como atriz em São Paulo, no Brasil, enfim, nos Estados Unidos trabalhando como atriz ou no cinema é muito especial. Acho que a gente tem que usar isso pro Brasil inteiro. O máximo que a gente puder levar do cinema brasileiro ou da nossa identidade para outras cidades, conseguir tocar os jovens e trazê-los ao cinema é muito bom. Quando meu pai convidou a Bianca [Comparato, atriz da série 3%, da Netflix] para vir ao Circuito ela disse uma coisa muito linda: “eu tenho muita vontade de ir, porque a gente precisa fazer isso, levar o cinema para onde as pessoas não tem acesso”. A gente vê aqui o Cine Penedo parado, o do Hotel São Francisco também parado, dá uma dó. A gente precisa reativar esses lugares pra trazer os cinemas para as pequenas cidades e para as grandes também.

Ascom Circuito: Durante a pesquisa para a entrevista, li que você foi uma das primeiras atrizes a aceitar o convite para o filme Entre Idas e Vindas (2014). Como surgiu o convite?

Alice Braga: Eu já tinha muita vontade de fazer filmes do José Eduardo Belmonte, pelos outros filmes que ele já tinha feito – inclusive, eu adoro o Se Nada Mais Der Certo (2008), acho brilhante – e eu tinha falado, acho, em alguma entrevista que gostaria de trabalhar com o Belmonte e ele leu ou alguém contou, enfim. Foi quando ele me ligou e disse: “tenho esse projeto”. Ficamos de 4 a 5 anos tentando fazer o filme, vai rolar não vai rolar, ficou nessa de entre idas e vindas literalmente (risos), mas acabou acontecendo. Eu fui a primeira a entrar porque quando ele me chamou eu achei uma idéia leve, legal, e é um filme muito simples sobre amizade, amor, perdão e eu acho que é tão bom a gente ter filmes assim, leves, então foi um convite que eu fiquei muito feliz e topei entrar na jornada.

Ascom Circuito: Podemos dizer que a proposta da personagem, então, te motivou a aceitar o papel logo de cara?

Alice BragaTotalmente. Não, quando o Belmonte me ligou, ele disse: “Alice, quero que você faça comédia”. E eu disse: “nãããããão” (risos). E ele falou pra Ingrid [Guimarães, atriz]: “eu quero que você faça drama” e ela teve a mesma reação. Imagina? A Ingrid, atriz de comedia, faz super bem e eu, muito mais de ação, de drama, de terror até, mas enfim, eu também não fiquei muito na comédia. A personagem até tem um pouco de drama, só que um pouco mais engraçado, já que ela é mais bem humorada também. O filme é bem leve, gostoso e é mais a dinâmica de todos juntos sobre a amizade, perdão, alegria, do que qualquer outra coisa. Então o fato de ser um projeto diferente de tudo que eu tava fazendo foi o que me deu mais vontade. A gente fez o filme na amizade mesmo e pensou: “Vamo fazer? Vamo fazer. Vamo no risco? Vamo no risco”. Aí todo mundo foi, ninguém ganhou nada, a gente foi super no coração mesmo. Foi um projeto muito especial.

Sorridente e bem humorada, Alice Braga falou, dentre outros assuntos, de sua forte ligação com Alagoas (Foto: Paulo Accioly)
Sorridente e bem humorada, Alice Braga falou, dentre outros assuntos, de sua forte ligação com Alagoas (Foto: Paulo Accioly)

Ascom Circuito: E como era o clima nos bastidores, durante as gravações?

Alice Braga: Era exatamente como estava na tela. A gente dava muita risada, muita mesmo. Tinham dias que eu quase fazia xixi nas calças com a Ingrid de tanto que eu dava risada. Até brinquei que não ia mais trabalhar com ela por causa disso (risos). Era muito gostoso principalmente porque tava todo mundo muito a fim de fazer o filme, foi um filme em que as pessoas que estavam envolvidas ficaram muito amigas. Quando a gente entrava no motorhome parece que a câmera conseguiu pegar esse clima mesmo, meio intimista e tal. Foi muito legal porque a Ingrid também tava querendo mesmo fazer um filme diferente, dos personagens que ela fazia, então foi muito gostoso.

Ascom Circuito: A Sandra, sua personagem, descobre que foi traída pelo noivo. Se você passasse por uma situação dessas, como acha que seria a sua reação?

Alice Braga: Ai, isso é tão difícil, sabe? Assim, eu já traí e fui traída e acho que na vida a gente aprende um pouco de tudo. É difícil, tudo depende muito de como a coisa foi feita, tanto que depois ela descobre que na verdade era o amor dela e eu acho isso, que o importante é o amor, acima de tudo. Acho que quando a gente entende e aceita que está junto, depende também da maneira da traição, caso não seja sacana também, porque assim, às vezes acontecem essas coisas na vida, mas não sendo na maldade, o perdão é sempre necessário. Então, eu não sei, é muito difícil dizer quando não é com você. A gente faria assim, diria assim, sendo com outro, mas com a gente é difícil. A pessoa nunca espera e quando acontece, ficamos naquela… Mas às vezes é bom perdoar, é importante para seguir em frente.

Ascom Circuito: Mudando de assunto, então, você tem perfis nas redes sociais? Como é a sua relação com os fãs?

"Eu não sou daqui, mas ó, mas eu sei que tenho sangue e coração daqui", diz Alice Braga (Foto: Paulo Accioly)
"Eu não sou daqui, mas ó, mas eu sei que tenho sangue e coração daqui", diz Alice Braga (Foto: Paulo Accioly)

Alice Braga: Eu tenho um perfil no Instagram (@alicebraga_oficial) e uma página no Facebook, esta não oficial, de um pessoal que ajuda a me manter informada e tudo mais. Mas eu sou péssima em internet (risos). Eu sou daquelas que gosta de imprimir texto, sabe? Às vezes eu leio o jornal pelo celular, por estar fora do Brasil e tal, fica difícil comprar, mas eu adoro comprar o jornal. Eu tenho rede social, adoro, mas também adoro papel, eu sou antiga (risos). E como eu te disse, é muito especial estar aqui e receber o carinho do pessoal daqui mesmo, dos estudantes de Alagoas, do pessoal da comunidade de Penedo. É muito legal porque de certa forma eu não nasci aqui, mas cresci vindo pra cá, faz parte da minha infância. Acho que, por exemplo, a vida que eu tenho hoje, a sorte de ter a educação que eu tive e do meu pai ter a vida que ele teve, tudo isso veio muito do meu avô alagoano. Eu não sou daqui, mas ó – nesse momento, ela aponta para o braço e, indicando as veias, continua: – eu sei que tenho sangue e coração daqui.