Moradores do quilombo Brejão dos Negros, localizado no município ribeirinho de Brejo Grande (SE) já contam com estrada de acesso ao povoado Resina. A obra financiada pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) foi entregue no sábado, dia 1º de setembro, e facilitará o trânsito das pessoas, escoamento da produção, atendimento médico e o fornecimento de água potável.

Apesar de estar situado à margem do Rio São Francisco, o povoado Resina é mais uma vítima do avanço da cunha salina nas imediações da foz do Velho Chico. A necessidade de dispor do líquido em condições de matar a sede e preparar alimentos levou a reivindicação da comunidade ao Ministério Público Federal, Incra e CBHSF.

A presidente da Associação dos Moradores da localidade, Maria Aparecida Xavier, disse que a estrada representa o atendimento de uma luta de, pelo menos, 15 anos. Já Magno de Oliveira Barros, outro quilombola local, disse que a comunidade não tem palavras para agradecer a ação do Comitê.

“Essa é a estrada da liberdade”, resumiu ele, segundo divulgação da assessoria do CBHSF. Outro representante da comunidade, Enéias Rosa, anunciou que o projeto para a construção de 41 casas populares, cujo processo estava parado devido à dificuldade para o transporte do material, será realizado a partir desse mês.

O acesso terrestre abre novas possibilidades para o quilombo. Antes, a pequena produção do beneficiamento do coco, não conseguia sair facilmente da localidade. Dependia de pequenas embarcações, assim como as peças artesanais e a pesca.

A partir de agora, o investimento de pouco mais de R$ 600 mil por parte do CBHSF irá permitir uma mudança de vida na localidade. “Tudo começou com as demandas apresentadas pelo Ministério Público Federal e pelo Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária], que apresentaram a demanda ao Comitê. Não limitamos esforços para atender. São comunidades como esta que são os principais aliados na preservação da vegetação e da vida”, disse o presidente do Comitê, Anivaldo Miranda.

O presidente do colegiado reforçou a necessidade de a comunidade se manter unida pela preservação do chamado rio da integração nacional. “Essa obra é a entrega da cidadania a uma comunidade esquecida, mas que o Comitê valoriza. São os quilombolas, os índios, os pescadores, fundamentais na preservação do nosso Velho Chico, por isso o Comitê tem um carinho especial com essas comunidades”, acrescentou Miranda.

O presidente do CBHSF anunciou ainda a disponibilidade do colegiado em promover um trabalho de educação ambiental na região. “Porque nenhuma nação cresce sem sustentabilidade”, concluiu Miranda.

O coordenador da Câmara Consultiva Regional (CCR) do Baixo São Francisco, Honey Gama, reforçou que o trabalho do Comitê não se resume à estrada construída e, agora, entregue. “Temos um olhar especial e diferenciado para essa região. Por isso, estamos realizando o diagnóstico na bacia do Rio Betume, com vistas a promover a recuperação de nascentes nessa região”, lembrou Gama.

A procuradora federal Lívia Tinoco disse que a ação do Comitê favorece o empoderamento da comunidade e lamentou que não tenha obtido o mesmo apoio da prefeitura municipal nem do governo do estado. O presidente da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), Denildo Rodrigues de Moraes, o Bico, destacou que a estrada entregue pelo Comitê tira a comunidade da invisibilidade. A coordenadora de regularização fundiária do Incra/SE, Sany Mota, reforçou que o Comitê foi o parceiro mais acessível para atendimento das demandas do quilombo Brejão dos Negros.

Fonte CBHSF