Troféu e desgosto: Um dia de corrida com Charles Oliveira


CAMPINAS, Brasil — É uma manhã quente de sábado e o Hipódromo de Viracopos está lotado. Centenas de pessoas de todo o país se reuniram no dia 9 de setembro com seus melhores cavalos para uma das corridas de arreios mais importantes da temporada no Brasil, incluindo uma estrela do UFC.

“É ele mesmo”, um homem diz ao amigo enquanto um Laramie azul bebê 2500 RAM estaciona ao lado de um caminhão branco e azul para esta forma histórica de corrida de cavalos. É difícil não notar o carro, seguido por um Range Rover Evoque azul bebê e o homem ao volante. Ele dispensa apresentações – na verdade é o ex-campeão peso leve do UFC Charles Oliveira.

Faltam 43 dias para o UFC 294, e Oliveira embarcará para Abu Dhabi no dia 11 de outubro, deixando São Paulo com sua gigantesca comitiva para mais uma vez lutar pelo título dos 155 libras contra seu mais recente inimigo, Islam Makhachev. Corrida de cavalos é outra paixão e, a julgar pelas emoções anteriores à corrida, pode ser uma paixão ainda maior do que a luta real.

Oliveira cresceu no Guarujá e sempre teve uma queda por cavalos. Ele realizou o sonho de comprar uma fazenda para os pais e começou a criar animais com os ganhos do MMA. Mas eles não eram nada parecidos esses cavalos. Com todo o dinheiro que ganhou com lutas e acordos de patrocínio, o astro do UFC pode gastar seis dígitos em equipamentos para cavalos de corrida.

“É um cavalo que tem um coração gigantesco e que não desiste”, diz Oliveira, sentado na traseira de sua caminhonete com dois de seus cavalos mais caros, aguardando a hora da corrida. “Eu adoro corridas de arreios.”

Esses cavalos, diz Oliveira, treinam tanto quanto os lutadores de artes marciais mistas.

Carlos Oliveira comemora
Guilherme Cruz

“É como um lutador, treina de segunda a sábado e só descansa aos domingos”, diz. “É muito trabalho. Eles usam gelo e acupuntura como nós. Eles têm dia de sparring, como chamamos de treinamento de corrida real. É realmente um cavalo único.”

Marcos Dahy, jóquei da equipe de Oliveira, é o responsável por cuidar e treinar os cavalos para as corridas, enquanto o “do Bronx” se prepara para suas próprias batalhas na Chute Boxe São Paulo. Mas Oliveira também adora subir no carrinho e correr sempre que pode. No início deste ano, ele competiu um dia antes de voar para o Canadá para lutar contra Beneil Dariush. Ele iria competir esta tarde também, mas seu cavalo sofreu uma lesão no início desta semana.

India Mia, égua diferente que Oliveira comprou na Argentina, garantiu o troféu na corrida que o ex-campeão do UFC deveria disputar, terminando em segundo. Mas Ocelot, seu cavalo premiado, competirá às 17h na última corrida do dia, e ele só consegue pensar nisso.

“Não fico nervoso antes de uma luta”, diz Oliveira. “Fico um pouco ansioso na hora e tal, mas para uma corrida, cara, não consigo dormir. Fiquei acordado a noite toda, andando pela casa pensando [about the race] e pedindo a Deus que nos abençoe. Tenho um grande sonho de ser campeão [on this Cup]. Já fiquei em segundo lugar uma vez, ganhei outras, mas não esta Copa.

“Eu trabalho muito, ajudo os outros de todas as maneiras que posso para fazer uma ótima corrida. Tive uma semana ocupada com filmagens [promotional UFC videos and interviews] e treinando, mas eu estava treinando com a cabeça neste dia.”

Um cavalo desse calibre custa mais de US$ 50 mil, o mesmo valor que Oliveira ganhou de bônus pós-luta pela vitória no primeiro round sobre Dariush, em junho. “Do Bronx” detém o recorde de maior número de bônus na história do UFC, o que o ajudou a formar uma equipe de cavalos valiosos e a oferecer-lhes o melhor cuidado possível em momentos como este.

Oliveira não consegue ficar parado. Seus amigos estão rindo e se divertindo, comendo churrasco, porém ele simplesmente anda em círculos ao lado do caminhão. Sua mãe percebe que ele está ansioso e pede que ele se sente para cantar uma oração. A filha de Oliveira, Tayla, de seis anos, ama Ocelot e se junta a ele no momento de fé.

“Assim como sonho em ser campeão do UFC novamente, também quero ganhar essa Copa”, diz Oliveira. “Tem tudo para acontecer hoje. É uma corrida difícil, há grandes corridas de cavalos e espero que vença o melhor – se Deus nos abençoar e for Ocelot, ficarei muito feliz.”

Oliveira reza com mãe e filha
Guilherme Cruz

A penúltima corrida acabou e o cavalo vencedor se chama “Minotauro”, um bom sinal para os supersticiosos do MMA. Ocelot não estava nas melhores condições após sofrer uma lesão no início deste ano, mas Oliveira se sente confiante. Ocelot registrou um excelente tempo de 1:52 em mais de oito corridas anteriores, então hoje pode ser o dia em que Oliveira finalmente ganhará a Copa.

O momento da verdade está a poucos minutos de distância – o evento principal, e Oliveira está chorando. Ele se vira para Tayla e pede a bênção de Deus, e ela responde: “Ele vai vencer, em nome de Jesus”. Oliveira sussurra aos ouvidos de Ocelot: “Você está pronto. Eu sei que.”

Dahy, o jóquei de Ocelot, sai com o cavalo e toda a tripulação de Oliveira segue para o autódromo. Mas a estrela do UFC opta por seguir um caminho diferente. Ele não pode sair do caminhão sem ser rodeado de fãs sedentos por fotos, e este não é o momento ideal para isso.

“Nunca fico desesperado com nada, mas esta final [race], irmão… vamos lá”, diz Oliveira a um amigo. “Os humanos podem dizer que não estão se sentindo bem, que estão com dor de estômago ou qualquer outra dor, então você lhes dá remédio e faz algo a respeito. Os cavalos não podem. Como eles vão te contar? Eles não podem, e então é o momento da verdade.”

A corrida começa e Oliveira reza. Ele enxuga as lágrimas dos olhos e ora mais um pouco. “O que você dá ao universo é o que volta para você”, ele repete continuamente. Ele caminha até a linha de chegada ao lado de sua namorada e ouve mensagens de incentivo de uma pessoa presente.

“Você vai ganhar esta – e o cinturão”, diz um homem.

Cinco cavalos se aproximam da chegada pescoço a pescoço. A líder, Abra, cruza a linha primeiro e Oliveira fica incrédulo. Ocelot vem em quarto lugar. Dezenas de pessoas invadem a pista, um mar de camisas cinza comemorando a grande vitória de Abra, e o ex-campeão do UFC volta para seu caminhão.

O tempo oficial para o vencedor é 1:55, o que deixa Oliveira ainda mais chateado, considerando os tempos que Ocelot já registrou no passado. Mas o que importa no final é quem foi o animal mais rápido naquele dia, e desta vez a equipe de Abra terá o direito de se gabar.

“O melhor [horse]aquele que está melhor preparado [may not win], porque às vezes ele acordava sem se sentir bem”, disse Oliveira. “É como todos nós. É uma merda, cara.

Oliveira fica decepcionado e Tayla fica com o coração partido. “Do Bronx” pede para seus familiares e amigos irem embora, e eles arrumam tudo. Jaguatirica chega e Oliveira ajuda a soltar a carroça para acalmar o animal. “Do Bronx” tira fotos com duas crianças antes de sair, fingindo seu melhor sorriso. Ele não conseguiu o troféu que tanto queria.

Em breve, Oliveira estará mais uma vez sob os holofotes para a luta principal do UFC 294.

Agora, ele tem outro motivo para levar o grande prêmio para casa.

Guilherme Cruz



Fonte: mma fighting