“Outubro Rosa”: MPAL promove roda de conversa com especialistas e pessoas diagnosticadas com câncer


Uma manhã de diálogos, de troca de experiências, mas principalmente de orientações e muito aprendizado com a roda de conversa “Outubro Rosa” promovida, na manhã desta quarta-feira (23), pelo Ministério Público de Alagoas (MPAL). O evento ocorreu de forma híbrida e teve a participação de membros, servidores e estagiários, entre eles pessoas que já vivenciaram o processo com o diagnóstico de câncer. A promotora Micheline Tenório, coordenadora do Núcleo de Defesa da Saúde do MPAL, ladeada pela promotora de Justiça Stela Cavalcanti, coordenou o encontro.

“A roda de conversa foi um momento ímpar, impactante, de um poder e de uma entrega incalculáveis. Ficamos mais de duas horas conversando, trocando saberes e experiências, e ninguém demonstrou cansaço, passando conhecimento e também aprendendo. Tenho certeza de que essa roda de conversa impactará a vida de muitas pessoas e que todos sintam-se abraçados com fé, esperança e gratidão. O Ministério Público, todos os anos, promove debates sobre o tema com o intuito de auxiliar a sociedade, estimulando as pessoas à prevenção e é gratificante a certeza de que ouvindo especialistas desse quilate, que são profissionais reconhecidamente compromissados com a causa, estamos sempre plantando boas sementes”, afirma a promotora Micheline Tenório.

Quem participou da roda de conversa, na forma presencial ou virtualmente, pôde ouvir explicações imprescindíveis de uma equipe multiprofissional especialista em oncologia, constituída por: médica clínica, dentista, nutricionista e psicóloga. Eles destacaram a importância da prevenção, do cuidado múltiplo, e também da rede de proteção e apoio, para quem é diagnosticado.

A nutricionista oncológica, Cinthya Lima, falou da importância da alimentação saudável como prevenção, que deve começar desde a infância, o acompanhamento profissional preventivo, e, também, durante o tratamento para conciliar a qualidade da alimentação, a quantidade calórica necessária e a suplementação, essa última necessária em alguns casos para manter o paciente nutrido, com maior conforto e com resultados satisfatórios. Ressaltou, inclusive, a necessidade de se rever a qualidade dos alimentos ofertados nos hospitais, destacando o impacto positivo da alimentação saudável na recuperação dos pacientes oncológicos ou não .

“É tudo muito complexo, mas é possível começar a prevenir desde cedo. Digo sempre que, ou a gente cuida das nossas crianças ou lá na frente será mais complicado. Vimos, com espanto, as comidas ofertadas nas escolas, como a promotora Micheline falou, mas, se não consigo entender a alimentação das escolas, pior ainda é entender a dos hospitais. Não dá para em um centro de oncologia hospitalar, o paciente receber bolo cheio de açúcar, iogurte de morango, suco de caixa, o que é uma alimentação totalmente desorganizada”, enfatiza a nutricionista oncológica.

Ela reforça que , ao contrário, do que divulgam, existem inúmeras possibilidades para quem está com câncer, acabando o mito de que a pessoa diagnosticada tem de abdicar de tudo e só comer caldos e papinhas.

As discussões também contaram com a oncologista clínica da Rede D’Or, Caroline dos Anjos. Ela falou que a questão cultural pontua na estatística do câncer. A médica também ressaltou sobre a forma de tratamento, as imposições feitas aos pacientes oncológicos.

“A população precisa de representatividade nas estatísticas e nas políticas públicas, não somente as mulheres, mas, os mais jovens e os idosos, faixas etárias que têm aumentado a incidência de câncer, bem como as pessoas trans, porque também podem ser vítimas do câncer. Lembrando que não existe, ainda, recomendação específica para pessoas trans, nem para os homens CIS, e é preciso diminuir a voz do autoexame e aumentar a voz da autopercepção. Todas as pessoas precisam conhecer o seu corpo, cada um precisa saber o seu normal e isso tem a ver com a autoestima. Gostaria de aproveitar o momento e dizer também que a mulher com câncer não precisa ser uma guerreira, ela pode sim chorar a sua dor, porque é ela quem sente. Não pode é esmorecer e desistir, a pessoa com câncer, paralelamente ao tratamento médico, tem que estar fortalecida mentalmente e espiritualmente”, diz a médica.

Ela continuou, afirmando que ‘para além, ainda nesse universo, é preciso lembrar a questão cultural, pois convivemos com propagandas provocativas, que induzem ao erro alimentar. E é preciso um movimento para questioná-las”. A médica alertou para a importância da vacinação para prevenir HPV e de se fazer o Papanicolau, que , apesar do entendimento de que deva ser realizado a partir dos 25 anos, pela vida sexual ativa das meninas, terem início cada vez mais cedo, em torno dos 16 anos, ela entende que deveria ser feito antes.

A psicóloga Patrícia Vieira, com participação também presencial, foi diagnosticada em 2008, aos 30 anos, com câncer de mama.

“Já falei inúmeras vezes sobre o meu caso, mas sempre percebemos que há novas trocas de experiência e novos aprendizados. Vivemos numa sociedade bastante adoecida por excesso de trabalho, alimentação errada, sem descanso, sem sono adequado e isso tudo contribui. Procuro sempre usar meu conhecimento e minha experiência para ajudar pessoas com câncer e tem uma coisa que acho um absurdo é a cultura antiga de como se referem a quem morre de câncer, como por exemplo: ‘perdeu a guerra para o câncer’, ou ”perdeu a guerra para aquela doença’, quando não se reportam dessa forma a quem morre por infarto, diabetes, entre outras. Então é preciso pararmos com isso, ninguém perdeu a guerra, as pessoas com câncer não podem ser vistas como coitadas”, declarou a psicóloga.

Já o dentista e doutorando em Oncologia, Matheus Lima, que teve câncer de tireoide ainda na adolescência, chama a atenção das pessoas para o cuidado adequado com a boca, fazendo acompanhamento rotineiro com dentista, pois explica que uma boca saudável, também é importante como prevenção do câncer e primordial durante o tratamento dele.

“Não existe cura do câncer com um tratamento exclusivo de apenas um tipo de profissional, é um conjunto, e a odontologia faz parte dela. Posso garantir que prevenção é a palavra-chave, em todos os quesitos, e a boca é um espaço que precisa ser bem cuidado, pois num processo de procedimentos contra o câncer, a depender de como ela esteja, pode interferir, inclusive, no início do tratamento. É praticamente impossível iniciar uma quimioterapia ou uma radioterapia, por exemplo, sem que a boca esteja saudável. Nós trabalhamos com o método preventivo, mas também com o acompanhamento de pacientes diagnosticados e usando a tecnologia que tem avançado bastante e tem nos ajudado na missão do cuidar. É muito gratificante confirmar que Maceió tem profissionais altamente capacitados e competentes nessa área da oncologia”, relata Dr Matheus Lima.

O evento também contou com o depoimento especial da servidora do MPAL, Maria Helena, que descobriu o câncer de mama há menos de um mês.

“Ainda estou tentando administrar a nova realidade, que não é só minha. Pois a minha mãe também está com câncer e foi por conta do problema dela que decidi investigar. Fazia os exames de rotina anualmente, tinha um nódulo que acompanhava há sete anos, mas que os médicos diziam não oferecer riscos e, realmente, a doença não foi desencadeada por ele. Inclusive o meu problema não conseguiu ser detectado pela mamografia, nem ultrassonografia, foi pela ressonância com contraste a descoberta do carcinoma mamário. Foi impactante, mas existe uma rede de proteção e de apoio em minha volta, família, amigos, membros e servidores do MP e essas pessoas lindas que aí estão, a doutora Caroline que o sobrenome faz jus, é um anjo mesmo, e o Dr Matheus. Tenho procurado ser forte, decidi ativar o presente e pensar num futuro de conquista porque eu tenho muita coisa ainda para conquistar e vou realizar muitos sonhos”, relatou Maria Helena.

O vídeo completo com orientações dos especialistas que estiveram na roda de conversa pode ser acessado via Youtube , no perfil do MP de Alagoas. E para quem quer se deparar com uma lição de vida, a oncologista Drª. Caroline dos Anjos, recomenda o livro: “Os últimos melhores dias da minha vida”.



Fonte: Assessoria MPAL