Julgamento do caso Roberta Dias chega ao último dia com confissões, reviravoltas e expectativa por sentença

Nesta sexta-feira, o Fórum da Comarca de Penedo recebe o terceiro e último dia do julgamento de Mary Jane Araújo Santos e Karlo Bruno Pereira Tavares, acusados pela morte de Roberta Costa Dias, crime ocorrido em 2012 e que chocou a cidade e o estado de Alagoas. Ao longo de três dias de sessões intensas, o júri popular tem sido marcado por revelações, confissões inesperadas, depoimentos impactantes e decisões judiciais que prometem definir um dos processos mais complexos da história recente do município.

Linha do tempo do julgamento até agora

O julgamento foi iniciado na última quarta-feira (23), com a oitiva das testemunhas de acusação. Das oito arroladas pelo Ministério Público, seis foram ouvidas — duas foram dispensadas. Entre os depoentes do primeiro dia esteve um policial civil que participou da equipe de investigação inicial e cuja prisão equivocada, anos atrás, gerou grande repercussão na cidade.

Outro depoimento relevante foi o de Douglas Simões, ex-vereador e ex-candidato a prefeito de Feliz Deserto, e do seu pai, João, responsável por gravar o áudio que reacendeu o caso e culminou no atual julgamento. O dia terminou com o depoimento de Saulo Santos, ex-namorado da vítima e filho de Mary Jane, que, surpreendentemente, assumiu participação no crime durante seu testemunho.

Confissões mudaram o rumo do julgamento

A confissão de Saulo teve efeito imediato na condução dos trabalhos. Embora não seja réu no processo por ser menor de idade à época dos fatos, sua declaração influenciou diretamente na linha de defesa de Karlo Bruno, que também confessou o crime no segundo dia do júri, detalhando a execução de Roberta. Segundo ele, a morte ocorreu por asfixia, utilizando um fio de som automotivo, enquanto ele estava escondido no porta-malas do veículo.

O teor dessas confissões enfraqueceu qualquer tese de negativa de autoria por parte da defesa e mudou o foco das estratégias: Karlo Bruno passou a buscar uma eventual redução de pena, com base em atenuantes como sua idade à época do crime (menor de 21 anos).

A condição de Mary Jane

Mary Jane, mãe de Saulo, também prestou depoimento. Ela negou qualquer envolvimento no planejamento ou execução do crime, alegando desconhecimento sobre a participação do filho até novembro de 2024. No momento de seu interrogatório, ela passou mal e precisou de atendimento médico no local. Segundo seu relato, ao tomar conhecimento da confissão de Saulo, chegou a ser internada devido ao choque.

Apesar das confissões de Saulo e Karlo Bruno, ambos isentaram Mary Jane de participação direta no crime, o que poderá pesar na avaliação dos jurados sobre sua responsabilidade. A acusação, no entanto, sustenta que ela teria planejado o crime com o intuito de evitar o nascimento do neto.

Debate sobre justiça e responsabilidade

A legislação brasileira impede que Saulo, hoje com 30 anos, seja responsabilizado criminalmente, já que era menor de idade em 2012. Por isso, participou do julgamento apenas na condição de depoente.

Hoje: debates e veredicto

Com as confissões registradas e os interrogatórios encerrados, o júri entra na sua fase final nesta sexta-feira. Estão previstos os debates entre acusação e defesa, com 2h30 para cada parte. Caso necessário, o Ministério Público poderá apresentar réplica, e a defesa, tréplica — o que pode levar os trabalhos por até nove horas.

Após os debates, os jurados serão levados à sala secreta para responderem aos quesitos sobre os quatro crimes atribuídos a cada réu: homicídio triplamente qualificado, aborto provocado por terceiro, ocultação de cadáver e corrupção de menor (apenas no caso de Mary Jane).

Só então o juiz responsável pelo caso irá redigir a sentença, com base na decisão do conselho de sentença.

A cidade de Penedo aguarda, ansiosa, o desfecho de um processo que há 13 anos clama por justiça. A última palavra, agora, está nas mãos dos jurados.